sexta-feira, outubro 26, 2007


"O mundo estará fodido de vez", disse então, "no dia em que os homens viajarem em primeira classe e a literatura no vagão de carga."

É, para mim, a frase mais marcante de Cem Anos de Solidão, o livro de Gabriel García Márquez que acabei de ler ontem à noite, por volta das dez horas. Tinha, como é óbvio, que dedicar umas linhas aqui do blogue a mais um livro que não me passou despercebido pelos olhos.
Para começar, gostei. Uma forma de escrever bastante marcante, não só pelos frequentes "haveria de recordar anos depois" ou "anos depois faria isto e aquilo", como também pela enorme perspicácia com que apanha os pormenores do dia-a-dia, aquelas coisas que geralmente não nos damos conta, em que até formigas têm papel de relevo.
Posteriormente, a história em si. Fazendo jus ao nome, a história retrata cem anos de uma família (supostamente colombiana), passando-se toda a acção numa terra fictícia chamada Macondo, indo de geração em geração e em que cada personagem tem o seu quê de influência no clímax atingido precisamente na última página do livro; para quem não leu, será talvez necessário o auxílio de uma árvore genealógica da família Buendía/Iguarán (para quem já leu, perceberá certamente a minha aflição no final do livro).
Sendo o primeiro livro que leio deste autor, não consigo afirmar objectivamente que a maneira como escreve em Cem Anos de Solidão, será necessariamente a mesma de outros livros, como por exemplo em Crónica de Uma Morte Anunciada, o próximo a ler de García Márquez.
Fiquei contente, ao acabar o livro, a sério que fiquei.
Dá gosto de ter algo que nos acompanha quando nada mais há no Mundo para além dos Morangos com Açúcar, ou o futebol que nunca acaba, ou até numa viagem de camioneta que se prevê sempre longa e interminável, ou simplesmente uma mera expedição a um centro comercial.

É que em relação ao título deste post, o sábio catalão tinha muita razão, não tinha?

Cumprimentos, Simão Martins

quarta-feira, outubro 17, 2007

O Politicamente Incorrecto


Há pessoas que não têm nem terão nunca papas na língua. Uma dessas pessoas é James Watson, um dos pais do ADN, que se lembrou de vir dizer que acha que os pretos são menos inteligentes que os brancos. Ora, para quem tem a mínima noção de razoabilidade e coerência, esta é uma afirmação completamente ridícula.
E digo isto, porque é algo que me preocupa, pois sei que este senhor, com todo o seu prestígio e influência na comunidade científica, terá certamente daqueles discípulos que à mínima palavra acenam todos afirmativamente com a cabeça, mesmo que o que James Watson esteja a dizer seja a maior estupidez à face deste planeta.
Muitos de vós poderão achar que será apenas a idade do premiado em 1962 com o Nobel da Medicina a falar por si, mas enganam-se. Há precisamente dez anos, Watson fez outra declaração polémica e que dá que falar:
"Se um dia se descobrisse que a homossexualidade está gravada nos genes, então as mães de bebés com esses genes deveriam ter o direito de abortar".

Só espero que estas afirmações nada politicamente correctas reduzam a credibilidade de James Watson a cinzas.
É porque se trata de um mau exemplo.

E nada mais.

Cumprimentos, Simão Martins

terça-feira, outubro 16, 2007

Deus na terra (ou melhor, na Internet)!


Em 2003, os Radiohead lançavam o seu mais recente álbum (ainda com editora), Hail To The Thief, uma experiência bem sucedida resultante da mistura dos seus sons mais primitivos com o seu grande apreço pela electrónica e já agora, pela esquizofrenia.
Quatro anos depois, "já e ainda" sem editora, decidem (re)fazer-se à vida: fazem umas musiquinhas, aproveitam umas que até já existiam desde 1995 (Ok Computer) e pronto, eis que surge In Rainbows, mais uma criação genial deste quinteto britânico.
Foi já em meados de Setembro deste ano, através de mensagens encriptadas no seu website, que os Radiohead fizeram passar a ideia de que algo estaria para acontecer, talvez em Março; não sei se por incompetência dos descodificadores, ou por mera vontade de enganar toda a gente por parte da banda, a verdade é que dia 10 de Outubro estaria disponível o download de In Rainbows, pela módica quantia de...quanto os fãs quisessem oferecer, estando incluída a opção zero € (uma vez mais a velha máxima: só para quem pode!).
Desta forma, resta-me deixar uma breve introdução que mais não é que a primeira música do álbum, 15 steps, um aperitivo fabuloso para uma refeição que se revelaria ainda melhor.



Se Deus não existe na terra nem no céu, estará com certeza muito perto da última obra-prima dos Radiohead.

Cumprimentos, Simão Martins

domingo, outubro 14, 2007


“Para quem não sabe: O filme intitulado 'Corpus Christis' (O Corpo de Cristo), que vai sair em breve na América do Norte , mostra Jesus mantendo relações homossexuais com os seus discípulos. A versão teatral já se apresentou. É uma paródia repugnante de Jesus. Uma acção concentrada da nossa parte poderia provavelmente mudar as coisas. Você aceita juntar o seu nome no fim da lista? Em caso afirmativo, poderíamos evitar a projecção deste filme que não traz nada de positivo. PRECISAMOS DE MUITOS NOMES em adesão a esta proposta 'Quem me confessar diante dos Homens, Eu o confessarei Diante de meu Pai, que está nos Céus.' (Mt 10.32) 'Mas aquele que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai que está nos céus..'(Mt 10.33) POR FAVOR: Não faça 'ENCAMINHAR' Desta mensagem, mas sim: SELECCIONE TUDO, COPIE (Ctrl+C) e COLE (Ctrl+V) numa mensagem Nova. Depois, acrescente o seu nome no fim da lista e envie-o a todos Os seus amigos. São apenas 2 minutos para algo tão importante. Quando a lista chegar aos 500 nomes, envie-a a: homasg@softhome.net1.”

Este é, sem mais nem menos (ou melhor, sem todos os nomes que formam uma extensa lista), um e-mail que eu recebi um dia destes. E não será difícil ao caro leitor prever qual foi a minha reacção: um severo franzir do sobrolho, seguido de uma valente gargalhada, que deu finalmente origem à minha vontade de escrever um post sobre tão ridícula mensagem que tem circulado aí pela Internet.
Como é óbvio, ao ler um texto destes, só posso uma vez mais reflectir sobre como anda a percentagem de seres realmente pensantes, já nem digo inteligentes, no nosso planeta. Já foram feitos boicotes a livros, como o Código da Vinci, filmes, entre os quais a Paixão de Cristo, e agora O Corpo de Cristo. A diferença entre o primeiro e o segundo filmes está realmente no comportamento de Cristo: no primeiro, passa o filme todo sob o ataque dos chicotes e depois o resto do filme sob a cruz; no segundo, diverte-se com os seus discípulos, ao que o/a fabuloso/a autor/a deste texto teve a sensibilidade de apelidar de “paródias homossexuais”.
Para estes idiotazinhos (que insistem em recusar a evolução do pensamento), a salvação da fé passa pelo boicote da própria existência humana, enquanto representação artística, entre muitas outras formas existentes de comprovar a real história de Jesus Cristo (não estando eu aqui a dizer qual é a correcta ou a errada). É também a recusa da liberdade de expressão, da liberdade de pensamento e da coerência da questão em si. Se o católico X decidir que, para si, Jesus Cristo alinhava realmente em “paródias homossexuais” então é certo e sabido que estará o caldo entornado, esteja o católico X onde estiver.

A decadência da Igreja Católica está à vista de todos, e já todos os meios são poucos para sustentar a mais grandiosa das instituições já existentes em toda a história da humanidade, para o bem e para o mal.

A propósito deste tema, recomendo o livro Nostalgia do Absoluto, de George Steiner, constituído por cinco conferências relativas ao nascimento das novas mitologias, e de como algumas poderão ou não persistir ao longo do tempo. Interessante e pequeno.

Cumprimentos, Simão Martins

sábado, outubro 13, 2007

Tiros, sangue e muito, muito pus!


Para quem já viu Planet Terror, o título só lhes trará memórias: agradáveis ou não, isso já diz respeito a cada um. Para quem ainda não teve o (des)prazer de assistir ao último filme de Robert Rodriguez, penso que já tem uma ideia do que esta segunda parte deste projecto cinematográfico lhe reserva.
Grindhouse, o nome dado ao conjunto dos filmes Death Proof e Planet Terror, o primeiro realizado por Quentin Tarantino e este último pelo já acima referido Robert Rodriguez, é a mais recente homenagem aos chamados filmes de série Z, com todas as falhas de som e imagem possíveis e imaginárias que estes dois homens do cinema conseguiram concretizar na perfeição. Provavelmente vão acusá-los de total insanidade mental e sadismo sem limites, mas eu prefiro arriscar um elogio desmedido à creatividade e divertimento com que me parece que este projecto se desenvolveu e como resultou, no fundo. Em relação a Tarantino, verdade seja dita, nunca esperaria menos, sendo que não posso dizer o mesmo do homem que decidiu realizar Spy Kids, Robert Rodriguez (para quem não tem memória curta, trata-se de uma daquelas apostas cinematográficas dignas duma tarde de "cinema" num sábado à tarde, na TVI). A ideia "zombiesca" resulta tão bem ou melhor que a de Tarantino, em Death Proof, a surpresa do medonho e ao mesmo tempo do cruelmente engraçado, fazem de Planet Terror, e já agora de Grindhouse, uma aposta ganha.

Cumprimentos, Simão Martins

terça-feira, outubro 09, 2007

Os Três Magníficos

Portugal tem sido cada vez mais um destino a não fugir, designadamente no domínio musical. Desde concertos isolados a festivais de música dos mais diversos estilos, em todos eles estiveram presentes as mais consagradas bandas do momento.
Convém, no entanto, não esquecer que não sou receptivo a qualquer coisa, ou que é um qualquer trapo musical que me convence. Mas adiante: para o que interessa!

As três melhores bandas deste Verão estiveram duas delas em Paredes de Coura e outra no Super Bock Super Rock, e foram as seguintes, do fabuloso para o genial:



- Lcd Soundsystem, com o grande concerto do Super Bock Super Rock, a música energética e contagiante destes britânicos, chefiados pelo sempre agradável James Murphy, levou os que lá se encontravam à loucura, principalmente em músicas como Daft Punk Is Playing In My House e Tribulations, entre outras. Para quem não viu, vê para a próxima; para quem viu, não vai certamente recusar entre 20 a 30 euros para assistir a um colectivo humano especialmente dado à luz para trazer o ritmo ao mundo!




- Gogol Bordello, provenientes da cidade que nunca dorme, foram a grande surpresa do Verão. Chegaram à pacata vila (ou cidade, não me recordo) de Paredes de Coura num dia chuvoso, mas a única coisa que conseguiram foi levar à loucura o até aí apático anfiteatro do palco principal de um dos melhores festivais da Europa. Descrições aparte, aqui fica um single daqueles como já vão havendo poucos.





- Por fim, os já batidos nisto Sonic Youth. Contratados especialmente para fechar (e arrasar) o festival de Paredes de Coura e sem darem explicações a ninguém, deram simplesmente aquele que foi para mim o melhor concerto deste ano. "Parece fácil!", dizia frequentemente um amigo meu.
Se é ou não, eles só eles poderão dizer. Imperdíveis!



E é desta forma que ficam eleitas as três melhores bandas deste ano, todas elas oriundas de dois festivais de Verão, o que por si só serve de elogio aos organizadores dos respectivos festivais. De saudar também a iniciativa do Álvaro Covões que conseguiu integrar no cartaz do Alive! bandas como Smashing Pumpkins, The White Stripes, Pearl Jam e Beastie Boys, entre outros.

Cumprimentos, Simão Martins

segunda-feira, outubro 01, 2007

1 de Outubro de 2007

Dia Mundial da Música. Nem por isso o meu dia preferido do ano. Mas podia ser.

Continuo hoje a minha caminhada no domínio da redacção. Continuo a não querer falar sobre o que todos falam quando pouco há a dizer. Continuo a gostar de música, mas isso já todos sabiam. Há tempo para tudo, mas esse tudo é demasiado vago para por vezes se incluir no tempo que temos livre. O paradoxo presente nesta afirmação é bastante curioso, não pela falsidade utópica da questão mas pela indubitável e absoluta veracidade da mesma. É um facto de que já vai havendo cada vez menos tempo para o tudo. Mas adiante:
Não posso duvidar que há uma curiosa e simpática coincidência de ser neste dia que volto ao Enquanto houver estrada para andar, depois de tão excessivamente prolongadas férias (uma vez mais curioso, mas relativamente ao facto de ser eu, um mero jovem de 19 anos, a proferir estas criminosas palavras, do ponto de visto da minha classe etária, claro está). Deixo também o aviso que a colaboração prometida no último post decidiu formar um blog próprio que se encontra n'Os Meus Links, mais propriamente: Who's Playing At My House, um espaço que dá maior importância a...bom, quererão posteriormente descobrir por vocês mesmos.
Por cá, vou encerrar o post de hoje com uma sugestão musical, o que de maneira nenhuma poderia deixar de acontecer.
O outono já chegou, mas vou só puxar uma brisa de Verão (o que uma vez mais é contraditório, pois era um dia chuvoso em Glastonbury) para escutar Mishto! dos electrizantes Gogol Bordello, uma das sensações de Paredes de Coura 2007.



Já com saudades, cumprimentos, Simão Martins

domingo, julho 29, 2007

Holidays

Por descuido e também devido a uma imprevista displicência esqueci-me de deixar aqui o aviso, como um gerente de restaurante que fecha para férias, dizendo "volto dia tal", referindo que as férias (ainda em curso) me deixariam impossibilitado de escrever fosse o que fosse. Pois bem, cá estou então com quase um mês de atraso a afirmar que não escreverei mais até inícios de Setembro.
Ao menos liberto-me do compromisso, e assumo-o. É mais fácil assim; dá para dormir descansado e até escuso de passar por cá em busca de um ou outro comentário.

Aproveito para dizer ao organizador de Paredes de Coura que este ano o plantel é rigorosamente alternativo, sendo que estou à espera que Pete Doherty faça das suas (mas estou mesmo).

Outra novidade é uma recente contratação que fiz para este espaço e que considero de extrema importância. Pelo menos uma ou duas vezes por mês, um grande amigo meu, cujo nome virá junto aos seus textos, fará uma colaboração para o Enquanto houver estrada para andar, com críticas a cd's, músicas e filmes. Faço-o pois penso que só tenho a ganhar com esta dinamização do blogue e espero que isso seja útil para todos, no que toca ao interesse geral.
Para o resto das férias fica aqui uma sugestão intemporal, incontornável e, melhor que tudo, fresca!
Acompanhada por um conjunto de imagens das mais variadas bandas que até vão merecendo o meu apreço, Age of Consent, dos New Order.



Com tudo isto mais este calor insuportável que não me parece que desapareça tão depressa quanto isso, desejo muito boas férias a todos e até Setembro!

Cumprimentos, Simão Martins

domingo, julho 01, 2007

O Jornal do Cidadão!


Este semestre tive uma disciplina intitulada Sociologia do Jornalismo e da Opinião Pública. O objectivo era, exactamente, perceber quais as características dos jornalistas e do jornalismo e também o impacto da mediatização na sociedade de massas, nomeadamente na opinião pública. E uma das conclusões a que consegui chegar, é que há jornais de referência, e jornais ditos "populares".
Ora, se há coisa que não contribui para uma melhor informação é, obviamente, a distorção sistemática dos factos contidos nas notícias expostas ao público. É o que fazem jornais como o Correio da Manhã, o 24 Horas, o Tal e Qual, entre outros. O post de hoje serve então para clarificar umas quantas ideias.
Ao ler o Diário Digital de hoje, não pude deixar de reparar no sonante título: 24 Horas quer assumir-se como o «jornal do cidadão». Também não pude evitar soltar uma boa gargalhada. Não tanto com o título, que até me parece uma boa ideia que, finalmente, haja algum bom senso nesta coisa da comunicação social, que está a degradar-se a passos largos. Ri-me por uma simples razão.
O 24 Horas quer ser o jornal do cidadão, mas quando o seu director diz que "a mudança passa por um reforço nas áreas de crime e justiça, televisão e famosos e finanças pessoais", eu só posso concluir que nada vai mudar. Crime e justiça? Há-os em abundância. Televisão e famosos?
Enfim, de facto, é mesmo para rir. E não podia ser de outra forma, pois estes jornais, como já foi dito, nunca poderão alcançar o estatuto de jornais de referência, pelo simples facto de que é necessário servir-se o interesse público para se ser um jornal do cidadão. E esta questão não podia vir mais cheia de pertinência.
Há, obviamente, uma distinção entre interesse público e interesse do público. O primeiro diz respeito às notícias que têm relevância no domínio cultural, político, económico e social de um país; o segundo está ligado às exigências e expectativas do público em geral. Não será preciso darmos mais que dois exemplos para que isto seja bem visível: a TVI e o 24 Horas. Estes são dos maiores servidores do interesse do público, sendo que o primeiro acumula as maiores audiências, ao contrário do segundo que, pelos vistos, fará estas fabulosas "alterações" nos conteúdos temáticos do jornal para aumentar as vendas.
Enfim, houve um comentário de há uns posts que continha uma expressão que vou transcrever, visto que descreve da melhor maneira o que se passa com a comunicação social em Portugal.

Pelos vistos, em Portugal dá mais saída servir o interesse do público (que é mais interessante) do que o interesse público (que é mais importante). Há, portanto, uma "emerdização" dos media em Portugal e que tem tendência para aumentar, o que se comprova pela análise das audiências nos diferentes meios de comunicação.

Cumprimentos, Simão Martins

quinta-feira, junho 28, 2007

Mr. Nobody


Segundo o Diário Digital de hoje, o Google está prestes a acabar com a versão alemã do Gmail (o e-mail do Google, isto para os menos informados). Tudo devido a uma proposta de legislação que proíbe a criação de contas de e-mail anónimas, algo que vai contra a política do Google e da maior parte das empresas do ramo.
Ora, o que me interessa aqui discutir não é este facto em si, mas mais a discussão que isso gera e que aliás já tem dado que falar um pouco por todo o lado. Interessa-me então saber:

Qual a pertinência ou falta dela no anonimato na Internet?

Respondendo concisamente e para que não haja espaço para dúvidas: toda a pertinência.
A Internet é, como se sabe, o novo grande espaço comunicativo, um dos grandes pilares da tão aclamada globalização. Mas esta rede ou este conjunto de redes que dá pelo nome de Internet é também um dos locais mais perigosos para se estar. A expressão está, por acaso, muito bem escolhida. Porque nós estamos na Internet, e como em qualquer lugar, convém saber onde se está e como se está (perdoem-me a repetição excessiva). A segurança é, realmente, um tema que me interessa, e acho que posso falar por mais uns quantos.
Todos sabem o que é o Hi5. Ora o Hi5 mais não é do que uma rede do género Myspace, em que se pode fazer partilha de documentos e sobretudo informação. E não é um tipo de informação qualquer: apenas o nome ou alcunha, fotografias, idade, local de residência, local de trabalho, gostos, enfim, creio que já sabemos que convém parar um pouco para pensar se é realmente uma forma de comunicar assim tão segura. Se me derem cinco minutos para pensar se eu conheço alguém sem Hi5 (à excepção dos meus pais, avós e alguns tios), concluo que na verdade devem ser muito poucas as pessoas que não possuem um espaço nesta rede. Para além de pôr em causa alguns valores da privacidade, não padece de um elevado grau de segurança, o que por exemplo já não acontece com o Messenger, cujo funcionamento não merece qualquer explicação.
Por último, a questão da Blogosfera. Sabe-se claramente que hoje em dia a maior parte dos grandes boatos que reinam a mediatização partem da Blogosfera; e, exceptuando os blogs cujos autores são figuras públicas e reconhecidas a nível mediático, todos os outros permanecem ou no anonimato ou num pseudo-anonimato (exemplo deste último é precisamente este blog). Assim, ninguém me proíbe nem sou punido por lançar um boato relativo a qualquer figura pública; por outro lado, teria de ter mais cuidado com a minha identificação caso eu fosse mais um blogger com alguma influência na agenda do dia. Como assim não é, melhor.
Retenha-se, ainda assim, o mau exemplo dado por um blogger ao acusar Miguel Sousa Tavares de plágio em relação ao seu romance Equador, pelo que depois se tornou um processo de complicada resolução, devido (lá está) ao estatuto de anonimato do acusador.

Como em tudo na vida, há-que haver máxima liberdade à qual deverá estar associada a máxima responsabilidade, e não é por se tratar de um dispositivo virtual e digital que isso deixará de ter sentido.

Cumprimentos, Simão Martins

terça-feira, junho 26, 2007

Octávio no Mundo



A "embriaguez" causada pelo filme de ontem fez com que me esquecesse por completo de referir uma experiência que considero fantástica e inesquecível, tendo feito ontem um ano que estreou Octávio no Mundo, uma peça de Jacinto Lucas Pires, com a encenação da fantástica Natália Vieira (também com o apoio de Diogo Dória).
Trata-se de um projecto bastante interessante levado a cabo pela Culturgest (o Panos), que convida vários escritores, argumentistas, entre outros, para escreverem peças de teatro que serão encenadas por várias escolas. O ano passado foram propostas três, sendo que a que mais se adequava ao nosso grupo foi mesmo a escolhida. E este projecto não podia ser mais cativante: é-nos apresentado um guião, que podemos discutir com o autor e com o encenador, propor até diferentes formas de representação (deve ser a única forma de isso acontecer no teatro).
Mas falemos de Octávio no Mundo:

Octávio é um miúdo que aparece numa sala, num palco completamente nu, e aquele é o seu mundo. Surge Inocêncio, o dono do jogo. Ah, afinal temos um jogo! Apercebemo-nos de que não será tão fácil de compreender como esperávamos. Octávio está embaraçado, não sabe como há-de reagir àquela definição do que o rodeia. Inocêncio apresenta-lhe uma vez mais o seu mundo, e não se pode dizer que o rapaz embaraçado que está no centro da acção se sinta convencido ou até satisfeito. A cena acaba com um diálogo fantástico que transcrevo para aqui e que definirá muito do que se passará ao longo de toda a história:

Inocêncio - Esqueci-me do que ia dizer (pausa).

Octávio - Estavas a falar de -

Inocêncio - Ah, sim. A história do jogo dentro da cabeça, que afinal é um mundo concentrado e concentrando-se cada vez mais até explodir, com todos os fogos-de-artifício possíveis e impossíveis e verdadeiros, noutra coisa perfeitamente diferente. O que estava a dizer era que se tens mesmo de fazer alguma coisa, levanta-te ou senta-te - uma das duas, nunca as duas ao mesmo tempo, isso seria feio e feio-mau - e imagina que és um miúdo com ténis vermelhos.

Octávio
- (enquanto as luzes se apagam) Só isso?

Realmente, este jogo de palavras intencionais e pré-meditadas, o tipo que já conhece o terreno pantanoso em que o novato se mete, o rapaz que nem sequer sonha onde é que se foi enfiar, apesar de aquele vir a ser o seu mundo.
Mas, se é um jogo, como podemos afirmar inequivocamente que aquele é o mundo de Octávio e que é algo real? Pois bem, toda a peça está impregnada de influências de filmes como Existenz ou Matrix, em que não sabemos bem se estamos a pairar na realidade ou na virtualidade; aliás, essa explicação é também bastante complicada de obter em Octávio no Mundo, pelo que as diferenciações que se fazem entre o real e o virtual são quase imperceptíveis em representação no palco. A ambiguidade desta esfera bidimensional tem o seu apogeu na relação com Júlia, a miúda Júlia, aquela por quem Octávio é capaz de deitar tudo a perder, a sua mais que tudo. Para quem leu ou virá a ler a peça, pode denotar uma alternância ao nível do diálogo, em que umas vezes se está dentro da peça, dentro do jogo, e outras vezes meras divagações com o público.
Como disse, a experiência que foi ter entrado nesta peça, entrado ao ponto de sonhar com ela, ao ponto de no dia-a-dia não ser capaz de não dar a resposta-chave de mais uma conversa com Júlia, os tiques que se ganham e tão cedo não se perdem; enfim, o Octávio mudou a minha vida para melhor e posso dizer que se aprende muito com esta peça.


p.s: Para quem a quiser ler, pode deixar um comentário aqui no blog com o respectivo mail que eu farei o favor de lhe mandar um documento com a peça integral.

Cumprimentos, Simão Martins

De besta a bestial e passando de novo a besta

Geralmente, nas histórias, há o vilão e o herói. Hoje pretendo dedicar o post inteiramente ao primeiro.



O que é um vilão e que papel tem ele numa história? Normalmente aparece-nos como um tipo simpático à primeira vista, que depois se vai desembrulhando numa personagem asquerosa e miserável ou simplesmente um tipo execrável do início ao fim da história. Enfim, independentemente da conduta adoptada pelo indivíduo, somos quase sempre levados a odiá-lo até ao final do filme e costumamos remoer-nos por isso, culpamo-nos de o termos deixado sequer ter ocupado um espaço de afectividade na nossa mente. Isso aconteceu-me em Match Point, o soberbo filme de Woody Allen, em que o vilão em questão (bom, não direi o que lhe acontece pois isso seria a morte do artista e eu não gosto de estragar surpresas) teima em persistir nas nossas mentes mesmo quando já chegamos à camioneta ou ao carro, mesmo quando estamos prestes a acabar o livro de que tanto gostamos e deixamos essa tarefa para depois, só porque o sacana não dá o braço a torcer. Pois bem, em Down in the Valley, o filme que tive o prazer de ver hoje, o vilão deixou-me surpreendentemente agradado com a sua prestação.
Sublinhe-se no entanto a existente subjectividade na minha análise, tendo em conta que o actor que dá corpo a Harlan é Edward Norton, um intérprete soberbo e um dos melhores da sua geração, sem dúvida.
Continuando, é realmente atípico termos esta empatia com uma personagem que é simultaneamente uma besta, bestial, volta a ser besta mas que acaba no clímax da bestialidade. Trata-se de uma avaliação que é impossível em Robert de Niro em Cabo do Medo, por exemplo, em que apenas queremos ver-nos livres do idiota que nos impede de ficarmos quietos na cadeira a partir de metade do filme.

É, aliás, a partir destes pressupostos da empatia com o vilão que foi construída a personagem do já conhecido e mediático Dr. House, que consegue, devido a esta ambiguidade ética e moral que o caracteriza, ganhar adeptos e inimigos.

Enfim, quero com isto dizer que, ao contrário do que nos ensinam desde cedo, sobre o bem e o mal, o que se deve ou não fazer, pensar, etc, penso que hoje em dia os muros que durante muito tempo existiam (filosoficamente divagando) entre o bem e o mal estão reduzidos a breves amontoados de indefinição e ambiguidade.
O vilão é mau, mas faz o miúdo contente; ele rouba para agradar a miúda que ama mas ela passa a amá-lo ainda mais por isso e nós ficamos felizes. Ao invés do parvalhão do De Niro, que me fez mudar várias vezes de posição no sofá, a prestação deste vilão é ambígua, gerando-nos momentos de grande emoção e outras vezes mordidelas nas almofadas.
Será então correcto dizermos que um vilão é simplesmente um vilão? Ou que essa personagem hoje em dia pode assumir até um papel de pseudo-herói (o exemplo de Tony Soprano é útil para este caso) que nos deixa confortáveis quanto à sua posição na sociedade e o papel que desempenham?

Cumprimentos, Simão Martins

quinta-feira, junho 21, 2007

Ora bem. Contagiado pelo final das frequências do primeiro ano da faculdade, deixo hoje aqui descritos os dois momentos que me impressionaram e que marcaram o meu dia. Normalmente não utilizo blogue como forma de "diário" mas acho que hoje vale a pena:

1º caso:

Ao lado do centro de saúde aqui mesmo ao pé de casa, num largo parque de estacionamento encostado ao passeio, uma senhora com uma carrinha Renault Megane tentava tirar o seu carro, que se encontrava entre outros dois veículos ligeiros. Não digo que o faria melhor que ela, nada disso. Apenas reparei que, na parte traseira do veículo, como é costume nos Renault, tinha uns sensores que deveriam (e deviam mesmo) estar a fazer uns "pi's" dentro do respectivo automóvel. E qual não é o meu espanto, ao ver que o embaraço da condutora se transforma em pânico e dá sensivelmente quatro "coices" seguidos na parte dianteira do automóvel atrás. Bem, confesso que é daquelas coisas que nos faz tropeçar na pedra da calçada desviada no próximo metro, e eu não me preocupei em fugir à regra. Lá fui cambaleando até retomar a compostura inicial, mas fui andando mais devagar para avaliar os estragos provocados pela perícia da respeitável senhora (perdoem-me o sarcasmo perverso); bom, e o resto já devem ter deduzido: que belas gargalhadas que soltei e franzi o sobrolho esquerdo, pensando "realmente temos muito bons e honestos condutores neste país".
Não, ela não deixou qualquer papel no pára-brisas do carro que se limitou a amolgar.

E passemos ao segundo belo momento do dia:

2º caso:


Hoje, tal como já referi no início do post, realizei a minha última frequência do primeiro ano da faculdade. Métodos de Pesquisa e Investigação. Basicamente uma disciplina que nos "ensina" como pesquisar no Google; definições de ciências e como elaborar um bom trabalho científico. Enfim, a temática não é bem para aqui chamada. O que interessa referir são dois pormenores que se revelaram bastante esclarecedores quanto à conduta de alguns docentes de certas e determinadas faculdades. Ora, o primeiro factor (que cronologicamente nem foi o primeiro) diz respeito ao facto de o professor responsável pela disciplina em questão ter entregue as frequências e ficado a vigiar a sala de aula, saindo dez minutos depois, e só esporadicamente vinha vigiar por pouco tempo a frequência (qual McCann) que deveria demorar mais ou menos noventa minutos. O que descobrimos após recebermos as frequências, é que havia uma estranha coincidência entre a prova que nos era entregue e a que tinha sido distribuída à turma que fizera exame antes de nós, coincidência essa que deixo aqui:


Frequência do primeiro turno (carregar na imagem para aumentar)

Frequência do meu turno (carregar também na imagem para aumentar)


Cumprimentos, Simão Martins

terça-feira, junho 19, 2007

Cor de pele


É, certamente, uma questão a deixar esclarecida. E digo isto, pois desde a altura da primária que me fui habituando a, sempre que tencionava pintar uma cara de uma pessoa de raça branca, tentava pintar de forma a que se parecesse ao máximo com a tão afamada (e no meu entender inexistente) cor de pele. De facto, trata-se de uma designação ridícula e incoerente mas que é desde cedo impingida às crianças, sublinho, erradamente.

Ora, isto leva-nos para outra discussão também ela interessante mas decerto mais perigosa e muitas vezes contornável: não há, definitivamente, a designação de cor de pele, mas sim pessoas brancas, pretas, umas mais para o amarelado, outras mais para o acastanhado. Enfim, estarmos a afirmar que alguém tem cor de pele é, repito, errado. Mas muitas vezes acontece termos que nos referir às pessoas cuja pigmentação não lhes confere o estatuto de "brancas", o que para muita gente é visto como um entrave ameaçador à liberdade de expressão. Quem é que nunca hesitou, olhando em redor para ver se não estava nenhum por perto, antes de dizer "O preto"? Essa hesitação nasce precisamente de uma conotação que o termo preto foi ganhando ao longo da história. Outrora escravos, os pretos são (como sempre deveriam ter sido) tão cidadãos quanto eu, o primeiro-ministro ou o presidente da República. E, saberá lá o Senhor porquê, sempre que eu digo "o preto", sou logo alvejado por "shius" ou "olha lá o racismo", entre muitos outros ralhetes devido ao meu (pelos vistos) impropério.

Nos EUA, há a conhecida expressão nigger, que já vai dando que falar um pouco por todo o mundo. Tal como para muitos o preto é algo com uma conotação negativa, também o nigger funciona um pouco assim, mas de uma forma mais radical. Aliás, há uns meses, num talk show, Michael Richards, o famoso comediante que encarnava a personagem Kramer na série Seinfeld, teve um momento de histeria incontrolável em que repetia vezes sem conta a palavra nigger, com o intuito de chocar a audiência e, como se viria a revelar, grande parte dos EUA. Independentemente do que aconteceu nesse talk show, a importância do emprego deste termo revela-se totalmente quando este vem, passado algum tempo, pedir desculpas na televisão por ter agido daquela forma, ou melhor, por ter dito nigger tantas vezes.

Voltando à lusofonia, há também outra situação que é necessário esclarecer nestas coisas das raças: é que, quer queiramos, quer não, muitos indivíduos que nós dizemos serem pretos são, na realidade, castanhos, o que semanticamente não fará muito sentido, na minha modesta opinião. Há como que uma desonestidade linguística bem representada nas nossas atitudes, na forma como ainda encaramos os pretos. Por que é que muitas pessoas ainda lançam o comentário depreciativo e habitual quando vêem, por exemplo, um preto a conduzir um automóvel descapotável? O mais certo é dizerem que foi roubado.
Infelizmente, ainda persiste a indissociabilidade entre os pretos, o vandalismo e a criminalidade. É melhor parar para pensar um pouco, e ver que esta diferença de raças jamais fará sentido, sendo que a descriminação que se faz a partir da cor da pele para a pessoa em si é uma descriminação baseada em pressupostos, muitas vezes errados. Martin Luther King veio ao mundo e deixou uma mensagem (neste caso, um sonho por cumprir), e ainda hoje se sentem algumas marcas de que ainda estamos bastante atrasados no que toca à total integração dos pretos na sociedade.


Cor de pele? Humana, se faz favor.


Cumprimentos, Simão Martins

quarta-feira, junho 13, 2007

THE END


A discussão surgiu há dois dias. Até pode ter parecido insignificante, mas eu já vou tendo esta mania mais ou menos irritante de dar um valor exagerado às coisas que por vezes nem o justificam. Pois bem:
A série d' Os Sopranos vai acabar e pelos vistos é um final em aberto. Mas a história acaba, pois o realizador já fez questão de negar qualquer continuidade da série. Então, digo eu, deixar um final em aberto não será o mesmo que admitir que esse final é, simplesmente, o final da história. O que não significa que fosse obrigatório que todos morressem e que aí sim pudéssemos afirmar que estava ali o final da história. Admito, necessito de uma definição para o "final da história". E, de facto, não me parece que um final em aberto encaixe tranquilamente neste conceito.

A sério que gosto de pensar nestas coisas.

Continuando, esta definição (atenção, tudo segundo o meu ponto de vista) vai muito de encontro à tranquilidade inerente ao final da história. Se somos deixados no suspense irritante e insustentável, perdemos a sensação de estarmos perante o já (demasiadas vezes) referido final da história. É por isso que eu afirmo que um final da história, tal como está descrito no filme, só fará sentido caso não haja um final inacabado, um final cujas características poderão levar a uma multiplicidade de interpretações impeditivas, por si só, de nos sentirmos tranquilos quanto ao desfecho da narrativa. Há outros casos, em que a confusão por si só nos impede de elaborarmos um raciocínio suficientemente coerente e capaz de destronar toda e qualquer interpretação para além da nossa.
Por fim, temos o caso da inexplicabilidade dos filmes. E aqui, será necessário admitir que o final da história tresandará a híbrido, isto é, sabemos que a história acabou, o filme já vai nos créditos, mas ainda não sabemos que sentido havemos de dar à narrativa, que sentimento haveremos de adquirir após vermos aquele filme? Lembro-me de um filme que vi há já algum tempo (sendo esta distância temporal impeditiva de uma melhor análise do mesmo), Donnie Darko, em que se verificava isto mesmo. O filme era triste, eu percebi que de facto a coisa tinha dado para o torto, mesmo sendo um pouco inverosímil, mas faltava ali a explicação, a justificação racional (não obrigatoriamente óbvia) da minha interpretação.
O meu último exemplo (e este sim caracterizado por um grande final da história) é o filme de Orson Wells chamado O Mundo a Seus Pés. E como quero que esta discussão tenha alguma coerência que a faça sobreviver no tempo:

Rosebud...

(Paradoxalmente, deixo a discussão em aberto, embora o post já tenha acabado)

Cumprimentos, Simão Martins

sexta-feira, junho 08, 2007

E como o fim-de-semana vai ser passado fora de casa, fora das preocupações que não descansam e nos ocupam constantemente o quotidiano, aqui fica uma das melhores músicas já feitas:



Cumprimentos, Simão Martins

segunda-feira, junho 04, 2007



Hoje não atribuí qualquer título a este post apenas porque não consegui. Há títulos que conseguem resumir posts, mas tal não acontece neste post em questão. Antes de me dirigir qual flecha ao assunto, deixo uma pequena nota introdutória:

Em Outubro do ano passado, fui pela primeira vez a Inglaterra. E tal como não será pertinente ir a Roma sem visitar o Papa, também eu não me coibi de ir a Londres. E em Londres, além do ultra-cliche mas fabuloso Big Ben, tive também o imenso prazer de visitar o mundialmente conhecido museu da cera londrino: Madame Tussaud.
A sério que gostei. Gostámos todos, aliás; tirámos fotografias com os mais variados "presentes" no museu, ainda deu para chocar com o Samuel L. Jackson, enfim, uma tarde muito bem passada mas de que, hoje e agora ,só interessa reter uma parte que se resume a três ou quatro minutos e que será relevante para o resto do post.
Ao passarmos pela parte das celebridades mais actuais, chegámos a uma sala em que jaziam as mais diversas personagens da História: Einstein, Picasso, Van Gogh, entre outros. Por fim, decidi tornar-me também eu numa estátua, embora involuntariamente, talvez pela visão me ter petrificado por inteiro. Ali estava eu, parado, de casaco na mão e máquina fotográfica na outra, em frente ao boneco de cera que quase dava vida a Adolf Hitler.
De facto, só a boca se mexia, por se ir abrindo a pouco e pouco. Gaguejei por momentos, e tudo isto num espaço de pouco mais que três minutos. Passado este tempo, vou alternando o olhar entre a estátua e a máquina fotográfica, até que decido: este não vai ter sequer um espaço na memória desta máquina!

Ora, depois desta "longa curta" nota introdutória, posso então dar seguimento ao episódio que também hoje me surpreendeu.

No âmbito de um trabalho da faculdade sobre o nazismo, a minha pesquisa levou-me a duas conclusões: uma, segundo a Lei de Godwin, que defende que, numa conversa online, se esta se prolongar por algum tempo, a probabilidade de se usarem analogias com Hitler ou nazis atinge praticamente os 100%.
A outra conclusão, demorou-me mais tempo a esclarecer. Ao longo da pesquisa, deparei-me inevitavelmente com a "obra-prima" de Adolf Hitler: Mein Kampf. E ao vê-la ali na íntegra, totalmente exposta na Internet, ali às mãos de qualquer um a obra que defende a supremacia de uma raça acima das outras, tive exactamente a mesma sensação que ao ver a estátua representativa da figura de Hitler. Só que desta vez, não causado por um amadurecimento posterior à visita ao museu, não provocado pelo desenvolvimento intelectual ou sentimental, decidi copiar na íntegra toda a obra para o disco rígido, na pasta Simão do meu computador; copiei para o Microsoft Word, e vi que ocupou sensivelmente trezentos e mais algumas páginas; por fim, gravei o ficheiro na pasta já referida anteriormente com o nome: Mein Kampf - Não Ler.

Só não sei por que raio é que o fiz.
Tanto o copiar, como o dar este nome à dita "obra".

Cumprimentos, Simão Martins

quarta-feira, maio 30, 2007

1984


Posso dizer que leio pouco. Isto é, leio menos do que quero e do que devo. Mas posso, ainda assim, gabar-me de já ter lido uma obra que me marcou não só pela forma como está escrita, mas também por toda a sua conotação implícita (ou até demasiadamente explícita) em relação ao regime ditatorial soviético de Estaline. Falo, obviamente, do livro 1984 de George Orwell. E deixo já o apelo: quem gosta de um bom livro, e não falo de romances, policiais, ou literatura barata tipo Dan Brown, este é um livro que qualquer pessoa que se preze deve ter exposto, emoldurado (sei lá!), na sua biblioteca pessoal.
Nesta obra, George Orwell descreve uma sociedade (sublinhe-se: fictícia e alegórica) em que a liberdade de expressão é praticamente nula, e em que toda a população do país em questão (Inglaterra) deve obediência cega e inquestionada ao Grande Irmão, que pode ser visto como um deus. Tudo começa na infância, a educação segundo o socing (socialismo inglês) e desde cedo o consumo do gin com sabor metálico (é mais fácil governar com o povo constantemente "embriagado"). Quem foge ao regime, morre, e esse é um dos pontos fulcrais coincidentes com o regime estalinista. Mas isso não basta. Também Hitler, Mussolini, Franco, Salazar, todos eles limpavam o sarampo a quem se lhes opusesse. Em 1984, o objectivo traçado para o povo é a poupança, há a esperança de que no futuro a recompensa irá chegar. Como em (quase) todas as histórias, há um herói. Não me colocarei aqui no papel de contracapa descritiva da missão desta personagem muito, muito bem construída; deixo, isso sim, que descubram em que medida é que este herói é bem sucedido. Outro dos aspectos que George Orwell cria e que serve de exemplo para qualquer terrorzinho que ande por aí e que aspire a ditador de um qualquer país, é o facto de diminuir o seu alfabeto ao mínimo para que, quanto menor for a capacidade intelectual do povo, menor será a probabilidade de contestação, e a forma como isso está apresentado em 1984 é simplesmente fabulosa.
Elogios não me faltam, já terão reparado, para enaltecer esta obra essencial do século XX. Concluo, porém, descrevendo o meu erro ao admitir que fiz mal (apenas por não saber) em ter lido primeiro este, estando agora a ler o Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley. Será o mesmo que ouvir primeiro David Byrne e só depois descobrir os Talking Heads (espero que a analogia seja possível em 80% dos leitores, caso contrário, tentarei outra num comentário posterior).

Cumprimentos, Simão Martins

sexta-feira, maio 25, 2007

Top 5

Talvez cansado de falar nas desgraças do mundo, ou talvez apenas desinspirado, converto temporariamente este blog num espaço cultural, em que me limitarei a eleger filmes que me marcaram, músicas, bandas, quadros, livros, etc. Convido também os leitores (se os há, realmente) a dar as respectivas apreciações do que aqui for colocado, originando assim boas discussões, e já agora descobertas de coisas novas. Afinal de contas, é para isso que isto serve.
Pois bem, o Top 5 de hoje vai tentar eleger as cinco melhores covers. Já que me tenho habituado a colocar aqui canções cantadas pelos próprios, hoje o que acontece é simples: cinco bandas a cantar músicas de outros autores, e qual destas prestações a melhor?

O critério é livre, mas eu escolho assim:

Nirvana, The Man Who Sold The World, de David Bowie




The Strokes, Last Nite, de Tom Petty (half cover de American Girl de Tom Petty, ver riff)




Muse
, Feeling Good, de Anthony Newley e Leslie Bricusse




Asian Dub Foundation, Police On My Back, dos The Clash




The Ramones, What a Wonderful World, de Louis Armstrong



Cumprimentos, Simão Martins