sexta-feira, outubro 26, 2007


"O mundo estará fodido de vez", disse então, "no dia em que os homens viajarem em primeira classe e a literatura no vagão de carga."

É, para mim, a frase mais marcante de Cem Anos de Solidão, o livro de Gabriel García Márquez que acabei de ler ontem à noite, por volta das dez horas. Tinha, como é óbvio, que dedicar umas linhas aqui do blogue a mais um livro que não me passou despercebido pelos olhos.
Para começar, gostei. Uma forma de escrever bastante marcante, não só pelos frequentes "haveria de recordar anos depois" ou "anos depois faria isto e aquilo", como também pela enorme perspicácia com que apanha os pormenores do dia-a-dia, aquelas coisas que geralmente não nos damos conta, em que até formigas têm papel de relevo.
Posteriormente, a história em si. Fazendo jus ao nome, a história retrata cem anos de uma família (supostamente colombiana), passando-se toda a acção numa terra fictícia chamada Macondo, indo de geração em geração e em que cada personagem tem o seu quê de influência no clímax atingido precisamente na última página do livro; para quem não leu, será talvez necessário o auxílio de uma árvore genealógica da família Buendía/Iguarán (para quem já leu, perceberá certamente a minha aflição no final do livro).
Sendo o primeiro livro que leio deste autor, não consigo afirmar objectivamente que a maneira como escreve em Cem Anos de Solidão, será necessariamente a mesma de outros livros, como por exemplo em Crónica de Uma Morte Anunciada, o próximo a ler de García Márquez.
Fiquei contente, ao acabar o livro, a sério que fiquei.
Dá gosto de ter algo que nos acompanha quando nada mais há no Mundo para além dos Morangos com Açúcar, ou o futebol que nunca acaba, ou até numa viagem de camioneta que se prevê sempre longa e interminável, ou simplesmente uma mera expedição a um centro comercial.

É que em relação ao título deste post, o sábio catalão tinha muita razão, não tinha?

Cumprimentos, Simão Martins

quarta-feira, outubro 17, 2007

O Politicamente Incorrecto


Há pessoas que não têm nem terão nunca papas na língua. Uma dessas pessoas é James Watson, um dos pais do ADN, que se lembrou de vir dizer que acha que os pretos são menos inteligentes que os brancos. Ora, para quem tem a mínima noção de razoabilidade e coerência, esta é uma afirmação completamente ridícula.
E digo isto, porque é algo que me preocupa, pois sei que este senhor, com todo o seu prestígio e influência na comunidade científica, terá certamente daqueles discípulos que à mínima palavra acenam todos afirmativamente com a cabeça, mesmo que o que James Watson esteja a dizer seja a maior estupidez à face deste planeta.
Muitos de vós poderão achar que será apenas a idade do premiado em 1962 com o Nobel da Medicina a falar por si, mas enganam-se. Há precisamente dez anos, Watson fez outra declaração polémica e que dá que falar:
"Se um dia se descobrisse que a homossexualidade está gravada nos genes, então as mães de bebés com esses genes deveriam ter o direito de abortar".

Só espero que estas afirmações nada politicamente correctas reduzam a credibilidade de James Watson a cinzas.
É porque se trata de um mau exemplo.

E nada mais.

Cumprimentos, Simão Martins

terça-feira, outubro 16, 2007

Deus na terra (ou melhor, na Internet)!


Em 2003, os Radiohead lançavam o seu mais recente álbum (ainda com editora), Hail To The Thief, uma experiência bem sucedida resultante da mistura dos seus sons mais primitivos com o seu grande apreço pela electrónica e já agora, pela esquizofrenia.
Quatro anos depois, "já e ainda" sem editora, decidem (re)fazer-se à vida: fazem umas musiquinhas, aproveitam umas que até já existiam desde 1995 (Ok Computer) e pronto, eis que surge In Rainbows, mais uma criação genial deste quinteto britânico.
Foi já em meados de Setembro deste ano, através de mensagens encriptadas no seu website, que os Radiohead fizeram passar a ideia de que algo estaria para acontecer, talvez em Março; não sei se por incompetência dos descodificadores, ou por mera vontade de enganar toda a gente por parte da banda, a verdade é que dia 10 de Outubro estaria disponível o download de In Rainbows, pela módica quantia de...quanto os fãs quisessem oferecer, estando incluída a opção zero € (uma vez mais a velha máxima: só para quem pode!).
Desta forma, resta-me deixar uma breve introdução que mais não é que a primeira música do álbum, 15 steps, um aperitivo fabuloso para uma refeição que se revelaria ainda melhor.



Se Deus não existe na terra nem no céu, estará com certeza muito perto da última obra-prima dos Radiohead.

Cumprimentos, Simão Martins

domingo, outubro 14, 2007


“Para quem não sabe: O filme intitulado 'Corpus Christis' (O Corpo de Cristo), que vai sair em breve na América do Norte , mostra Jesus mantendo relações homossexuais com os seus discípulos. A versão teatral já se apresentou. É uma paródia repugnante de Jesus. Uma acção concentrada da nossa parte poderia provavelmente mudar as coisas. Você aceita juntar o seu nome no fim da lista? Em caso afirmativo, poderíamos evitar a projecção deste filme que não traz nada de positivo. PRECISAMOS DE MUITOS NOMES em adesão a esta proposta 'Quem me confessar diante dos Homens, Eu o confessarei Diante de meu Pai, que está nos Céus.' (Mt 10.32) 'Mas aquele que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai que está nos céus..'(Mt 10.33) POR FAVOR: Não faça 'ENCAMINHAR' Desta mensagem, mas sim: SELECCIONE TUDO, COPIE (Ctrl+C) e COLE (Ctrl+V) numa mensagem Nova. Depois, acrescente o seu nome no fim da lista e envie-o a todos Os seus amigos. São apenas 2 minutos para algo tão importante. Quando a lista chegar aos 500 nomes, envie-a a: homasg@softhome.net1.”

Este é, sem mais nem menos (ou melhor, sem todos os nomes que formam uma extensa lista), um e-mail que eu recebi um dia destes. E não será difícil ao caro leitor prever qual foi a minha reacção: um severo franzir do sobrolho, seguido de uma valente gargalhada, que deu finalmente origem à minha vontade de escrever um post sobre tão ridícula mensagem que tem circulado aí pela Internet.
Como é óbvio, ao ler um texto destes, só posso uma vez mais reflectir sobre como anda a percentagem de seres realmente pensantes, já nem digo inteligentes, no nosso planeta. Já foram feitos boicotes a livros, como o Código da Vinci, filmes, entre os quais a Paixão de Cristo, e agora O Corpo de Cristo. A diferença entre o primeiro e o segundo filmes está realmente no comportamento de Cristo: no primeiro, passa o filme todo sob o ataque dos chicotes e depois o resto do filme sob a cruz; no segundo, diverte-se com os seus discípulos, ao que o/a fabuloso/a autor/a deste texto teve a sensibilidade de apelidar de “paródias homossexuais”.
Para estes idiotazinhos (que insistem em recusar a evolução do pensamento), a salvação da fé passa pelo boicote da própria existência humana, enquanto representação artística, entre muitas outras formas existentes de comprovar a real história de Jesus Cristo (não estando eu aqui a dizer qual é a correcta ou a errada). É também a recusa da liberdade de expressão, da liberdade de pensamento e da coerência da questão em si. Se o católico X decidir que, para si, Jesus Cristo alinhava realmente em “paródias homossexuais” então é certo e sabido que estará o caldo entornado, esteja o católico X onde estiver.

A decadência da Igreja Católica está à vista de todos, e já todos os meios são poucos para sustentar a mais grandiosa das instituições já existentes em toda a história da humanidade, para o bem e para o mal.

A propósito deste tema, recomendo o livro Nostalgia do Absoluto, de George Steiner, constituído por cinco conferências relativas ao nascimento das novas mitologias, e de como algumas poderão ou não persistir ao longo do tempo. Interessante e pequeno.

Cumprimentos, Simão Martins

sábado, outubro 13, 2007

Tiros, sangue e muito, muito pus!


Para quem já viu Planet Terror, o título só lhes trará memórias: agradáveis ou não, isso já diz respeito a cada um. Para quem ainda não teve o (des)prazer de assistir ao último filme de Robert Rodriguez, penso que já tem uma ideia do que esta segunda parte deste projecto cinematográfico lhe reserva.
Grindhouse, o nome dado ao conjunto dos filmes Death Proof e Planet Terror, o primeiro realizado por Quentin Tarantino e este último pelo já acima referido Robert Rodriguez, é a mais recente homenagem aos chamados filmes de série Z, com todas as falhas de som e imagem possíveis e imaginárias que estes dois homens do cinema conseguiram concretizar na perfeição. Provavelmente vão acusá-los de total insanidade mental e sadismo sem limites, mas eu prefiro arriscar um elogio desmedido à creatividade e divertimento com que me parece que este projecto se desenvolveu e como resultou, no fundo. Em relação a Tarantino, verdade seja dita, nunca esperaria menos, sendo que não posso dizer o mesmo do homem que decidiu realizar Spy Kids, Robert Rodriguez (para quem não tem memória curta, trata-se de uma daquelas apostas cinematográficas dignas duma tarde de "cinema" num sábado à tarde, na TVI). A ideia "zombiesca" resulta tão bem ou melhor que a de Tarantino, em Death Proof, a surpresa do medonho e ao mesmo tempo do cruelmente engraçado, fazem de Planet Terror, e já agora de Grindhouse, uma aposta ganha.

Cumprimentos, Simão Martins

terça-feira, outubro 09, 2007

Os Três Magníficos

Portugal tem sido cada vez mais um destino a não fugir, designadamente no domínio musical. Desde concertos isolados a festivais de música dos mais diversos estilos, em todos eles estiveram presentes as mais consagradas bandas do momento.
Convém, no entanto, não esquecer que não sou receptivo a qualquer coisa, ou que é um qualquer trapo musical que me convence. Mas adiante: para o que interessa!

As três melhores bandas deste Verão estiveram duas delas em Paredes de Coura e outra no Super Bock Super Rock, e foram as seguintes, do fabuloso para o genial:



- Lcd Soundsystem, com o grande concerto do Super Bock Super Rock, a música energética e contagiante destes britânicos, chefiados pelo sempre agradável James Murphy, levou os que lá se encontravam à loucura, principalmente em músicas como Daft Punk Is Playing In My House e Tribulations, entre outras. Para quem não viu, vê para a próxima; para quem viu, não vai certamente recusar entre 20 a 30 euros para assistir a um colectivo humano especialmente dado à luz para trazer o ritmo ao mundo!




- Gogol Bordello, provenientes da cidade que nunca dorme, foram a grande surpresa do Verão. Chegaram à pacata vila (ou cidade, não me recordo) de Paredes de Coura num dia chuvoso, mas a única coisa que conseguiram foi levar à loucura o até aí apático anfiteatro do palco principal de um dos melhores festivais da Europa. Descrições aparte, aqui fica um single daqueles como já vão havendo poucos.





- Por fim, os já batidos nisto Sonic Youth. Contratados especialmente para fechar (e arrasar) o festival de Paredes de Coura e sem darem explicações a ninguém, deram simplesmente aquele que foi para mim o melhor concerto deste ano. "Parece fácil!", dizia frequentemente um amigo meu.
Se é ou não, eles só eles poderão dizer. Imperdíveis!



E é desta forma que ficam eleitas as três melhores bandas deste ano, todas elas oriundas de dois festivais de Verão, o que por si só serve de elogio aos organizadores dos respectivos festivais. De saudar também a iniciativa do Álvaro Covões que conseguiu integrar no cartaz do Alive! bandas como Smashing Pumpkins, The White Stripes, Pearl Jam e Beastie Boys, entre outros.

Cumprimentos, Simão Martins

segunda-feira, outubro 01, 2007

1 de Outubro de 2007

Dia Mundial da Música. Nem por isso o meu dia preferido do ano. Mas podia ser.

Continuo hoje a minha caminhada no domínio da redacção. Continuo a não querer falar sobre o que todos falam quando pouco há a dizer. Continuo a gostar de música, mas isso já todos sabiam. Há tempo para tudo, mas esse tudo é demasiado vago para por vezes se incluir no tempo que temos livre. O paradoxo presente nesta afirmação é bastante curioso, não pela falsidade utópica da questão mas pela indubitável e absoluta veracidade da mesma. É um facto de que já vai havendo cada vez menos tempo para o tudo. Mas adiante:
Não posso duvidar que há uma curiosa e simpática coincidência de ser neste dia que volto ao Enquanto houver estrada para andar, depois de tão excessivamente prolongadas férias (uma vez mais curioso, mas relativamente ao facto de ser eu, um mero jovem de 19 anos, a proferir estas criminosas palavras, do ponto de visto da minha classe etária, claro está). Deixo também o aviso que a colaboração prometida no último post decidiu formar um blog próprio que se encontra n'Os Meus Links, mais propriamente: Who's Playing At My House, um espaço que dá maior importância a...bom, quererão posteriormente descobrir por vocês mesmos.
Por cá, vou encerrar o post de hoje com uma sugestão musical, o que de maneira nenhuma poderia deixar de acontecer.
O outono já chegou, mas vou só puxar uma brisa de Verão (o que uma vez mais é contraditório, pois era um dia chuvoso em Glastonbury) para escutar Mishto! dos electrizantes Gogol Bordello, uma das sensações de Paredes de Coura 2007.



Já com saudades, cumprimentos, Simão Martins