terça-feira, junho 19, 2007

Cor de pele


É, certamente, uma questão a deixar esclarecida. E digo isto, pois desde a altura da primária que me fui habituando a, sempre que tencionava pintar uma cara de uma pessoa de raça branca, tentava pintar de forma a que se parecesse ao máximo com a tão afamada (e no meu entender inexistente) cor de pele. De facto, trata-se de uma designação ridícula e incoerente mas que é desde cedo impingida às crianças, sublinho, erradamente.

Ora, isto leva-nos para outra discussão também ela interessante mas decerto mais perigosa e muitas vezes contornável: não há, definitivamente, a designação de cor de pele, mas sim pessoas brancas, pretas, umas mais para o amarelado, outras mais para o acastanhado. Enfim, estarmos a afirmar que alguém tem cor de pele é, repito, errado. Mas muitas vezes acontece termos que nos referir às pessoas cuja pigmentação não lhes confere o estatuto de "brancas", o que para muita gente é visto como um entrave ameaçador à liberdade de expressão. Quem é que nunca hesitou, olhando em redor para ver se não estava nenhum por perto, antes de dizer "O preto"? Essa hesitação nasce precisamente de uma conotação que o termo preto foi ganhando ao longo da história. Outrora escravos, os pretos são (como sempre deveriam ter sido) tão cidadãos quanto eu, o primeiro-ministro ou o presidente da República. E, saberá lá o Senhor porquê, sempre que eu digo "o preto", sou logo alvejado por "shius" ou "olha lá o racismo", entre muitos outros ralhetes devido ao meu (pelos vistos) impropério.

Nos EUA, há a conhecida expressão nigger, que já vai dando que falar um pouco por todo o mundo. Tal como para muitos o preto é algo com uma conotação negativa, também o nigger funciona um pouco assim, mas de uma forma mais radical. Aliás, há uns meses, num talk show, Michael Richards, o famoso comediante que encarnava a personagem Kramer na série Seinfeld, teve um momento de histeria incontrolável em que repetia vezes sem conta a palavra nigger, com o intuito de chocar a audiência e, como se viria a revelar, grande parte dos EUA. Independentemente do que aconteceu nesse talk show, a importância do emprego deste termo revela-se totalmente quando este vem, passado algum tempo, pedir desculpas na televisão por ter agido daquela forma, ou melhor, por ter dito nigger tantas vezes.

Voltando à lusofonia, há também outra situação que é necessário esclarecer nestas coisas das raças: é que, quer queiramos, quer não, muitos indivíduos que nós dizemos serem pretos são, na realidade, castanhos, o que semanticamente não fará muito sentido, na minha modesta opinião. Há como que uma desonestidade linguística bem representada nas nossas atitudes, na forma como ainda encaramos os pretos. Por que é que muitas pessoas ainda lançam o comentário depreciativo e habitual quando vêem, por exemplo, um preto a conduzir um automóvel descapotável? O mais certo é dizerem que foi roubado.
Infelizmente, ainda persiste a indissociabilidade entre os pretos, o vandalismo e a criminalidade. É melhor parar para pensar um pouco, e ver que esta diferença de raças jamais fará sentido, sendo que a descriminação que se faz a partir da cor da pele para a pessoa em si é uma descriminação baseada em pressupostos, muitas vezes errados. Martin Luther King veio ao mundo e deixou uma mensagem (neste caso, um sonho por cumprir), e ainda hoje se sentem algumas marcas de que ainda estamos bastante atrasados no que toca à total integração dos pretos na sociedade.


Cor de pele? Humana, se faz favor.


Cumprimentos, Simão Martins

1 comentário:

Anónimo disse...
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