A discussão surgiu há dois dias. Até pode ter parecido insignificante, mas eu já vou tendo esta mania mais ou menos irritante de dar um valor exagerado às coisas que por vezes nem o justificam. Pois bem:
A série d' Os Sopranos vai acabar e pelos vistos é um final em aberto. Mas a história acaba, pois o realizador já fez questão de negar qualquer continuidade da série. Então, digo eu, deixar um final em aberto não será o mesmo que admitir que esse final é, simplesmente, o final da história. O que não significa que fosse obrigatório que todos morressem e que aí sim pudéssemos afirmar que estava ali o final da história. Admito, necessito de uma definição para o "final da história". E, de facto, não me parece que um final em aberto encaixe tranquilamente neste conceito.
A sério que gosto de pensar nestas coisas.
Continuando, esta definição (atenção, tudo segundo o meu ponto de vista) vai muito de encontro à tranquilidade inerente ao final da história. Se somos deixados no suspense irritante e insustentável, perdemos a sensação de estarmos perante o já (demasiadas vezes) referido final da história. É por isso que eu afirmo que um final da história, tal como está descrito no filme, só fará sentido caso não haja um final inacabado, um final cujas características poderão levar a uma multiplicidade de interpretações impeditivas, por si só, de nos sentirmos tranquilos quanto ao desfecho da narrativa. Há outros casos, em que a confusão por si só nos impede de elaborarmos um raciocínio suficientemente coerente e capaz de destronar toda e qualquer interpretação para além da nossa.
Por fim, temos o caso da inexplicabilidade dos filmes. E aqui, será necessário admitir que o final da história tresandará a híbrido, isto é, sabemos que a história acabou, o filme já vai nos créditos, mas ainda não sabemos que sentido havemos de dar à narrativa, que sentimento haveremos de adquirir após vermos aquele filme? Lembro-me de um filme que vi há já algum tempo (sendo esta distância temporal impeditiva de uma melhor análise do mesmo), Donnie Darko, em que se verificava isto mesmo. O filme era triste, eu percebi que de facto a coisa tinha dado para o torto, mesmo sendo um pouco inverosímil, mas faltava ali a explicação, a justificação racional (não obrigatoriamente óbvia) da minha interpretação.
O meu último exemplo (e este sim caracterizado por um grande final da história) é o filme de Orson Wells chamado O Mundo a Seus Pés. E como quero que esta discussão tenha alguma coerência que a faça sobreviver no tempo:
Rosebud...
(Paradoxalmente, deixo a discussão em aberto, embora o post já tenha acabado)
Cumprimentos, Simão Martins
2 comentários:
Agora que falas no "Donnie Darko", que é um filme que me marcou, deixo-te um pequeno auxiliar para perceberes o argumento que anda a volta dessa coisa gira (e que pode ser muito confusa...) que é o tempo:
http://img82.imageshack.us/img82/9015/donnie2ny0.jpg
Ainda a propósito de filmes marados que chegam ao fim e ficamos completamente à pesca "recomendo-te" o "eXistenZ" do David Cronenberg... e digo recomendo-te entre aspas porque na realidade não fiquei fã do filme... errr... muito pelo contrário até! Mas recomendo-te na mesma :P
Para um admirador de Tony Soprano e da sua pandilha como eu, importa-me pouco se o senhor David Chase garante que não volta a escrever sobre estes gangsters de Jersey, N.Y.
Cá para mim vai mesmo haver mais Sopranos, na mesma medida em que os gangsters à séria que a novela retrata também existem, continuam e têm o seu fim "sempre em aberto".
Quanto ao tema em abstracto dos filmes sem chave no fim, eu acho que para muitos directores, ou para os argumentistas de muitas histórias se pode aplicar o princípio de muitos escritores de romances: interessa sobretudo escrever e muito menos o que se escreve.
Dito de outro modo, uma obra-de-arte existe muitas vezes porque se filmou, como se filmou, pelas cores, pelos silêncios, pelos sons, pelos olhares, pela teatralidade, pelas velocidades, por aquela especial imagem quase fotográfica. Nestes casos, a história, como em muito grande livro, não é o que se conta, mas contar e saber contar, às vezes pouco importa o quê.
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