segunda-feira, setembro 15, 2008

Reentré

O mês de Setembro é um mês curioso. É um mês de mudança, em que muitas páginas se viram. Quase como se tivéssemos chegado ao fim de um caderno, e temos um novinho em folha, com dezenas de páginas em branco à espera de serem preenchidas. O mês em que lentamente voltamos à nossa rotina, aquela de que andámos a fugir durante um mês. Olhamos em perspectiva para o ano que passou, para o mudou à nossa volta e dentro de nós, preparamo-nos para o que vem aí, fazemos planos, imaginamos o que nos espera, e perguntamo-nos se é desta que vou conseguir este ou aquele objectivo.


Gosto de fazer anos neste mês, dá-me uma sensação clara e inequívoca de que passou um capítulo desta minha história que ando a escrever já vai para 20 anos (o dia oficial é na 4ª feira 17, para os mais esquecidos...). No capítulo 19 da minha obra-prima entraram tantas novas personagens, e o protagonista aprendeu tanta coisa, que fica difícil não ficar entusiasmado, e também agradecido, com os novos actos que avizinham. Acho que me surpreendi a mim próprio com muitas coisas que fiz (pela negativa e pela positiva), mas tudo são experiências que ficam.

Mesmo aquela saída à noite que foi tempo perdido, aquele dia em que se fica a vegetar à frente da TV, aquele concerto absolutamente terrível, aquele café para o qual ninguém se lembrou de nos convidar, aquele filme hediondo em que amaldiçoamos os 5€ que acabámos de deitar à rua, a carteira que perdemos, a estalada que levámos, o copo de água atirado à cara, a T-shirt que ficou manchada com uma bebida de cor exótica, a tampa que levámos, a mensagem não respondida, o telefonema não atendido, o cartão sem saldo, a massa com atum e cogumelos, o dormir em sítios onde nunca considerámos ser humanamente possível fazê-lo, os dias sem tomar banho, o frio, o calor, a sede, as dores nas pernas e na garganta, as crises e os filmes, as "nóias", os problemas e tudo isso mais... Tudo vale a pena quando olhamos para o que assimilámos desses acontecimentos, e com quem os passámos. Porque anos mais tarde vai haver um café em que se lembram de nos convidar, ou então somos nós mesmos a organizá-lo. Vai haver um jantar, um cinema, um fim-de-semana, qualquer coisa. E aí estaremos com as pessoas com as quais vivemos estes dias. Vamos engasgar-nos de riso ao recordar estes momentos. E é disto que somos feitos. Pelo menos gosto de pensar assim.

E pronto, é hora de virar a página. Vamos a isto?