quarta-feira, maio 30, 2007

1984


Posso dizer que leio pouco. Isto é, leio menos do que quero e do que devo. Mas posso, ainda assim, gabar-me de já ter lido uma obra que me marcou não só pela forma como está escrita, mas também por toda a sua conotação implícita (ou até demasiadamente explícita) em relação ao regime ditatorial soviético de Estaline. Falo, obviamente, do livro 1984 de George Orwell. E deixo já o apelo: quem gosta de um bom livro, e não falo de romances, policiais, ou literatura barata tipo Dan Brown, este é um livro que qualquer pessoa que se preze deve ter exposto, emoldurado (sei lá!), na sua biblioteca pessoal.
Nesta obra, George Orwell descreve uma sociedade (sublinhe-se: fictícia e alegórica) em que a liberdade de expressão é praticamente nula, e em que toda a população do país em questão (Inglaterra) deve obediência cega e inquestionada ao Grande Irmão, que pode ser visto como um deus. Tudo começa na infância, a educação segundo o socing (socialismo inglês) e desde cedo o consumo do gin com sabor metálico (é mais fácil governar com o povo constantemente "embriagado"). Quem foge ao regime, morre, e esse é um dos pontos fulcrais coincidentes com o regime estalinista. Mas isso não basta. Também Hitler, Mussolini, Franco, Salazar, todos eles limpavam o sarampo a quem se lhes opusesse. Em 1984, o objectivo traçado para o povo é a poupança, há a esperança de que no futuro a recompensa irá chegar. Como em (quase) todas as histórias, há um herói. Não me colocarei aqui no papel de contracapa descritiva da missão desta personagem muito, muito bem construída; deixo, isso sim, que descubram em que medida é que este herói é bem sucedido. Outro dos aspectos que George Orwell cria e que serve de exemplo para qualquer terrorzinho que ande por aí e que aspire a ditador de um qualquer país, é o facto de diminuir o seu alfabeto ao mínimo para que, quanto menor for a capacidade intelectual do povo, menor será a probabilidade de contestação, e a forma como isso está apresentado em 1984 é simplesmente fabulosa.
Elogios não me faltam, já terão reparado, para enaltecer esta obra essencial do século XX. Concluo, porém, descrevendo o meu erro ao admitir que fiz mal (apenas por não saber) em ter lido primeiro este, estando agora a ler o Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley. Será o mesmo que ouvir primeiro David Byrne e só depois descobrir os Talking Heads (espero que a analogia seja possível em 80% dos leitores, caso contrário, tentarei outra num comentário posterior).

Cumprimentos, Simão Martins

sexta-feira, maio 25, 2007

Top 5

Talvez cansado de falar nas desgraças do mundo, ou talvez apenas desinspirado, converto temporariamente este blog num espaço cultural, em que me limitarei a eleger filmes que me marcaram, músicas, bandas, quadros, livros, etc. Convido também os leitores (se os há, realmente) a dar as respectivas apreciações do que aqui for colocado, originando assim boas discussões, e já agora descobertas de coisas novas. Afinal de contas, é para isso que isto serve.
Pois bem, o Top 5 de hoje vai tentar eleger as cinco melhores covers. Já que me tenho habituado a colocar aqui canções cantadas pelos próprios, hoje o que acontece é simples: cinco bandas a cantar músicas de outros autores, e qual destas prestações a melhor?

O critério é livre, mas eu escolho assim:

Nirvana, The Man Who Sold The World, de David Bowie




The Strokes, Last Nite, de Tom Petty (half cover de American Girl de Tom Petty, ver riff)




Muse
, Feeling Good, de Anthony Newley e Leslie Bricusse




Asian Dub Foundation, Police On My Back, dos The Clash




The Ramones, What a Wonderful World, de Louis Armstrong



Cumprimentos, Simão Martins



quarta-feira, maio 23, 2007

Haushinka

Quando alguém faz anos, compete-nos dar algo a essa pessoa, nem que seja os parabéns. Neste caso vou dedicar uma música que o sir Paul McCartney fez o favor de cantar. Embora ele a dedique a uma tal de «Eddie», esta é para a Raquel:



Muitos beijinhos, Simão Martins

sábado, maio 19, 2007

Deixa-me rir

O tempo está agradável, a praia vem aí, o semestre está quase no final, a boa vida teima em ocupar o nosso tempo livre. Enfim, é tempo para rir, e quem melhor que estes dois mestres do riso, cada um com o seu estilo bem definido. O primeiro, mais eufórico, vê-se bem que será comediante; o segundo, mais subtil, uma espécie de Al Capone em versão encolhida.

Um bom fim-de-semana para todos (ah, e não se esqueçam de rir!).





Cumprimentos, Simão Martins

sexta-feira, maio 18, 2007

Os gostos não se discutem! (ou sim)

Hoje, um post do domínio do senso comum. Talvez do curriqueiro. Não. Do curioso:

Na semana passada, numa aula de expressão escrita, foi-nos proposto que fizéssemos um texto sobre a tolerância.
Mas não é sobre a tolerância que me vou inclinar hoje.
Ainda assim, e a propósito da tolerância, por que não falar sobre uma frase que já está mais que gasta e é uma daquelas sempre presentes na ponta da língua: «Os gostos não se discutem».
Ora, esta discussão poderia levar horas, mas o meu objectivo será, sobretudo, tentar dar uma resposta a esta frase, uma explicação, uma prova de que isso é verdade.
E qual o meu espanto, quando após uma conversa com o meu velho, me apercebo de que realmente os gostos estão sempre a ser discutidos. Passamos a vida a discutir gostos, nem que seja numa conversa entre dois sujeitos notoriamente alcoolizados em que um gosta mais da cerveja normal e o outro diz que a preta é muito melhor.
A exteriorização dos nossos apreços ou desapreços reflecte-se, exactamente, na discussão dos gostos. É uma característica bem inerente do humano, o que não quer dizer que seja negativo. Aliás, nem sei bem se o facto de passarmos a vida nesta "discussão de gostos" deverá ser visto como uma virtude ou um defeito. Mas é assim que somos, e assim teremos que ficar.
E como os gostos não se discutem, hmm...ups, desculpem, os gostos discutem-se mesmo, mas não será por isso que deixarei de colocar aqui no blog uma das mais belas músicas pseudo-eruditas, dos Penguin Cafe Orchestra.

Air a Danser



Cumprimentos, Simão Martins

quinta-feira, maio 17, 2007

Five dollar baby


Realmente, por vezes a nossa vida parece um filme. E esse caso aplica-se perfeitamente a Howard David Ludwig (carregar no link para ler a notícia no Público online), um bebé de dez meses que, ao que parece, já tem na sua posse uma licença de porte de arma.
Esta pequena criança norte-americana do Illinois (surpreendentemente, um dos estados americanos que maiores restrições impõe à posse de armas) pode, logo que consiga manobrar um pequeno Action Man ou qualquer outro brinquedo inofensivo, contar com esta licença no seu livrinho de memórias como algo inesquecível; além disso, este atributo, por assim dizer, é um dos motivos de maior orgulho para o babado pai de «Bubba», a alcunha do pequeno bebé no seio da família.
Ainda assim, falta explicitar um aspecto: são precisos apenas cinco dólares para que alguém, neste estado da América do Norte possa ter uma arma. A partir dos dezoito anos, o pequeno Bubba poderá comprar uma caçadeira, apenas podendo evoluir para um revólver aos vinte e um anos. Mas o entusiasmo não fica por aqui. O avô já fez o favor de oferecer uma beretta ao neto e afirma que este terá autorização para lhe pegar mal tenha forças para o fazer.
Sendo assim, podemos já daqui tirar algumas conclusões:

-Aos dez meses, um bebé de sessenta e sete centímetros de altura e nove quilos de peso não sabe andar sozinho;
-Aos dez meses, um bebé de sessenta e sete centímetros de altura e nove quilos de peso não sabe comer sozinho;
-Aos dez meses, um bebé de sessenta e sete centímetros de altura e nove quilos de peso não fala;
-Mas aos dez meses, um bebé, de sessenta e sete centímetros de altura e nove quilos de peso, no estado do Illinois, na América do Norte, já poderá ter uma licença de porte de arma (independentemente da capacidade que lhe faltará para pegar na dita cuja) pela módica quantia de 5 DOLÁRES!!!

Cumprimentos, Simão Martins

terça-feira, maio 08, 2007

Psycho Killer

E aqui fica um pouco da história da minha vida...





O meu pai é um amante fervoroso da música. No entanto, não se resignando apenas a um estilo de música, já vai tendo a sua colecção de heróis de infância, dedica-se mesmo a encontrar a cada dia que passa um sucessor para aquele que é, cá em casa, um dos grandes artistas do século XX. Cada banda nova que aparece, qualquer tipo que decide inovar qualquer coisa, "já vem com um toque do nosso David, ó Simão!".
De facto, concordo com ele.

Eu nasci a ouvir duas coisas. The Clash e Talking Heads. Não se pode dizer que ainda com o cordão umbilical por escortanhar e gritos e choros na sala de partos me tivesse ocorrido alguma parte do London Calling ou do Once in a Lifetime. Mas deve ter sido preciso pouco mais que uns dias para que as melodias se começassem a apoderar do sensível aparelho auditivo do recém-nascido. O que é certo é que por volta dos 4 anos já cantarolava desenvergonhadamente o I Fought The Law, inconsciente do cariz político revolucionário da canção em questão. Mas temos que admitir, David Byrne vai mais além. David Byrne consegue levar o funk aos ouvidos mais esquisitos ou selectivos, como queiram. Tem o dom da transformação musical, mais que isso até, da capacidade de adaptação musical que faz com que em cada estilo ele se afirme convictamente, independentemente de esse ser, ou não, o seu estilo por natureza. Será que os grandes génios da música o têm? Isto é, estamos habituados a eleger os estilos que preferemos: o rock, o pop, o hip hop, o reaggae, etc.; apenas não sabemos se isso acontece com aqueles que vemos em vários registos, como é o caso de David Byrne.
Na verdade, as músicas que me vêm à cabeça quando penso na minha infância, são as do Rei Momo, o seu álbum mais tropical. Só depois descubro os Talking Heads, uma das bandas que influenciou o meu pai, e que ainda hoje têm marcas na minha apreciação musical.
Deixo-vos apenas uma amostra da loucura de David Byrne. A cassete com os ritmos gravados, o olhar esquizofrénico, o ritmo das pernas. David Byrne é o Psycho Killer.



Cumprimentos, Simão Martins