terça-feira, maio 08, 2007

Psycho Killer

E aqui fica um pouco da história da minha vida...





O meu pai é um amante fervoroso da música. No entanto, não se resignando apenas a um estilo de música, já vai tendo a sua colecção de heróis de infância, dedica-se mesmo a encontrar a cada dia que passa um sucessor para aquele que é, cá em casa, um dos grandes artistas do século XX. Cada banda nova que aparece, qualquer tipo que decide inovar qualquer coisa, "já vem com um toque do nosso David, ó Simão!".
De facto, concordo com ele.

Eu nasci a ouvir duas coisas. The Clash e Talking Heads. Não se pode dizer que ainda com o cordão umbilical por escortanhar e gritos e choros na sala de partos me tivesse ocorrido alguma parte do London Calling ou do Once in a Lifetime. Mas deve ter sido preciso pouco mais que uns dias para que as melodias se começassem a apoderar do sensível aparelho auditivo do recém-nascido. O que é certo é que por volta dos 4 anos já cantarolava desenvergonhadamente o I Fought The Law, inconsciente do cariz político revolucionário da canção em questão. Mas temos que admitir, David Byrne vai mais além. David Byrne consegue levar o funk aos ouvidos mais esquisitos ou selectivos, como queiram. Tem o dom da transformação musical, mais que isso até, da capacidade de adaptação musical que faz com que em cada estilo ele se afirme convictamente, independentemente de esse ser, ou não, o seu estilo por natureza. Será que os grandes génios da música o têm? Isto é, estamos habituados a eleger os estilos que preferemos: o rock, o pop, o hip hop, o reaggae, etc.; apenas não sabemos se isso acontece com aqueles que vemos em vários registos, como é o caso de David Byrne.
Na verdade, as músicas que me vêm à cabeça quando penso na minha infância, são as do Rei Momo, o seu álbum mais tropical. Só depois descubro os Talking Heads, uma das bandas que influenciou o meu pai, e que ainda hoje têm marcas na minha apreciação musical.
Deixo-vos apenas uma amostra da loucura de David Byrne. A cassete com os ritmos gravados, o olhar esquizofrénico, o ritmo das pernas. David Byrne é o Psycho Killer.



Cumprimentos, Simão Martins

1 comentário:

Vitor Reis M disse...

Um contributo opinativo para a história do Simão: há talvez três "byrnismos", primeiro, o "byrnismo" com Brian Eno, com epílogos espantosos, enquanto Talking Heads com o álbum "Remain in Light" e a solo com Eno no histórico "My Life in the Bush of Ghosts". Estávamos em 1980/1981. Para trás ficavam "77", "More Songs About Buildings and Food" e "Fear of Music", três estoiros de grande impacto, hoje talvez ainda mais que então.
O segundo "Byrnismo" radica no ocaso do projecto colectivo,seguido da fragmentação dos seus componentes (Jerry Harrison a solo, sem êxito, Tina Weimouth excelente com o seu projecto Tom Tom Club e o inesquecível "hit" "Wordy Rapinghood") e o início de um Byrne à procura de lugar. Desta fase fica um disco de música "brass" que é puro ouro, indisponível ainda em CD, tanto quanto sei, o disco "Music For the Knee Plays", que na verdade foi composto para um bailado de Tony Wilson.
O terceiro "byrnismo" trá-lo até hoje, é marcado pela multiplicidade de caminhos, com discos quase sempre desiguais mas invariavelmente com grandes canções, sobretudo as do álbum "Feelings".
Na opinião deste que escreve, há uma linha coerente e sempre muito elevada no Byrne destes 30 anos, mas o Byrne do primeiro "byrnismo" é aquele que fez história em definitivo, tendo depois a curva de interesse e pertinência de projecto decaído mais ou menos descontinuamente.
Boa escolha a do "Psycho Killer" para ilustrar, na verdade o primeiro "hit" de Byrne, estávamos em 1977.