segunda-feira, março 12, 2007
E se vivêssemos num mundo de mulheres?
Peço desculpa por ter estado mais de uma semana sem fazer qualquer post mas não tive mesmo oportunidade, e fica já aqui essa nota.
O post de hoje vem já com seis dias de atraso, mas mais vale tarde que nunca.
Ora, dia 8 de Março foi, como todos sabemos, dia Mundial da Mulher. Muitas pessoas, maioritariamente do sexo feminino, contestam a comemoração do 8 de Março por considerarem discriminatório o facto de apenas existir um dia da Mulher e não existir um dia do Homem. Em relação a este facto tenho, então, duas opiniões (que podem parecer contraditórias):
1º- É de facto verdade que se um extra-terrestre olhasse para a sociedade de hoje em dia e visse o dia 8 de Março, pensava: "Mas o que é isto? Elas são mais que eles, trabalham mais que eles, fazem mais trabalho em casa do que eles alguma vez farão, e para além de terem apenas um dia só delas, também têm um canal só delas? Isto não faz mesmo sentido nenhum!". Eu teria concordado à partida com este caro E.T., mas apenas se não tivesse ido investigar as causas do 8 de Março;
2º- Eis o que me faz discordar da opinião do sr. E.T. : o dia 8 de Março serve para comemorar, ao contrário do que muitos pensam, uma das primeiras grandes contestações do movimento feminino, em 1987 nos EUA, e não para reservar um dia em 365 para as mulheres, como quem diz: "Tomem lá um dia, que outro é para as crianças, outro para os feriados religiosos, políticos, etc. que o resto é para nós (homens)!"
Mas também temos que compreender que há, de facto, um subaproveitamento das qualidades intelectuais e criativas daquele que é considerado por muitos (nunca por mim!) o sexo fraco. As percentagens não mentem, quando o número de mulheres licenciadas é estrondosamente superior ao dos homens, e quando para um mesmo emprego muitas vezes há a estranha preferência de escolher um homem para um cargo. Não é por acaso que não me lembro de termos uma presidente da República ou uma Primeira-Ministra. Em todo o caso, já vamos avançando a passos moderadamente convincentes para uma total emancipação da mulher, excluindo obviamente os países em que estas são obrigadas a usar o burqha, e em que muitas vezes nem têm bilhete de identidade, onde até já os cães estão mais avançados. Isto ainda para não falar no tempo que demorou a que se desse o direito de voto ao sexo feminino, o poder mais absoluto do povo, que não deve ser retirado a ninguém. A sombra que escondeu as mulheres durante séculos deve ser totalmente suprimida, para o bem de todos, para o bem do mundo.
(A propósito deste tema, ver um filme com Charlize Theron, North Country, de Niki Caro, 2005 )
Cumprimentos, Simão Martins
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
querido Simon, por muito impressionada que esteja por ler tamanho panegírico às mulheres da tua parte, quero apenas corrigir-te numa coisa..
Maria de Lurdes Ruivo da Silva Pintassilgo - (...) Depois do 25 de Abril foi Ministra dos Assuntos Sociais do II e III Governos Provisórios e 1ª Ministra do V Governo Constitucional (de Agosto a Dezembro de 1979).
sim, já tivemos uma :)
Caro Simão,
Como sou mais velho, tenho a fortuna de ter conhecido e até trabalhado com a Engª Maria de Lurdes Pintasilgo, tendo participado em comissões da campanha presidencial de 1985/1986, em que alguns tentámos que fosse ela a presidente da república eleita. Acabaria por ter tido pouco mais de 7%, mas no início foi dela a liderança das sondagens.
Ganhou então o Dr. Mário Soares e ainda bem, pois entre outras inúmeras grandezas o extraordinário homem que ele é soube aproveitar/indicar a Engª Pintasilgo para cargos internacionais do maior relevo.
Segunda nota para te dizer que esta pequena participação da mulher na vida pública, que é indesmentível e que na Europa é sobretudo um fenómeno dos países do Sul e tb. de todo o mundo extra-europeu, com excepções claro, terá a meu ver relação com a matriz religiosa e cultural cuja derrota tem demorado séculos a conseguir.
O catolicismo, a predominância dos valores guerreiros, a ideia de que liderança é gritaria e se necessário até porrada foram valores decisivos nos poderes de facto das empresas e das indústrias do capitalismo nascente, onde e quando seja nascente, como sempre foram valores dos trabalhos assalariados dos campos, desde há pelo menos 10.000 anos.
É o homem guerreiro, que faz de facto as guerras e pode ir ao campo de batalha (é ver as empresas como "battlefield", hum?) que fez a nossa matriz, que a prestimosa igreja de Roma, seus bispos e párocos foram fazendo eternizar.
Onde estão mudando mais rapidamente as coisas? Na Europa que escapou a Roma, que mais depressa se laicizou, que se deixou contaminar pelo vírus do conhecimento, da mais ampla participação cultural dos cidadãos, que abraçou os valores da verdadeira democracia cultural e social que necessariamente esmaga os velhos e obtusos conceitos do "homem-guerreiro" parea edificar uma "meritocracia". E onde fica essa Europa? Eu diria que da França para cima, com a excepção relativa da Alemanha, por razões históricas bem conhecidas.
E porquê o dia da mulher? Para que todos saibamos que enquanto houver um dia assim tipos como tu e tipos como eu viremos falar de um mundo em que para aí uns 80% vivem na era medieval quanto aos direitos das mulheres, i.e. quanto aos direitos humanos mais elementares.
Enviar um comentário