terça-feira, março 20, 2007

Parabéns? Bem me parecia que não...


Fazem hoje quatro anos que começou a II Guerra do Golfo.

Ora, este é um facto que, mais ou menos aplaudido, não deixará nunca de ser discutível. Porquê? Pela simples razão de que não se começam (ou tal não deveria acontecer) guerras com interesses implícitos. Mas a obsessão americana por poder e por guerras já vai tão avançada e tão (quase) imparável que a conjuntura internacional se terá que preparar para colocar alguns entraves ao tio Samuel, pelo simples facto de que não queremos, falando por quase todos, voltar à época da guerra fria, em que estes se apresentavam confrontados com outra potência. Claro que neste caso seria uma Europa unida a confrontar os EUA.
O que Bush fez em 2003 para agradar ao progenitor não podia ter sido mais mal sucedido. Todos os dias sabemos de atentados bombistas, tropas americanas que morrem. "Sim, mas ele enviou há pouco tempo mais vinte e um mil soldados". Claro está, isto não vai atenuar a situação que por lá se encontra, pelo menos por enquanto. Como disse num dos primeiros posts, tenho muito orgulho em pertencer a um país e a uma cultura que não deixam nada a dever em relação a outros (ok, mais a cultura que o país), mas não aguento ver episódios como o da Base das Lajes, em que Durão Barroso coloca o nosso país de braço dado à grande potência económica, militar, etc. do momento!

O outro objectivo deste post é referir que foi hoje enforcado o vice-presidente iraquiano, Taha Yassin Ramadan. Não me canso de dizer que ainda vivemos em dois mundos, o da civilização e o da não-civilização (mesmo a propósito de quem vai lendo a Cidade e as Serras).
Mas o caso aqui é diferente do maravilhosamente retratado pelo meu/nosso querido Eça de Queirós (há-de vir um post sobre ele).
Já aquando do enforcamento de Saddam Hussein mostrei o meu desagrado e completa desaprovação deste tipo de medidas. Não creio que consigamos avançar para a paz mundial total quando ainda há por aí certas sociedades em que se enforcam ditadores, apedrejam mulheres, metem os pés de pequenas raparigas em moldes para que estes não mais cresçam, com o objectivo de ficarem pequenos e singelos. E deformados, não?

Creio que encontrei o adjectivo que justifica toda a minha tentativa argumentativa. Porque esta é uma sociedade que podemos comparar a um corpo humano que se vai levantando do chão. Um corpo que no entanto tem deficiências, e que precisa de ser tratado. Mas o tratamento é inútil, porque ele não está a ser tratado ao que devia, e as deficiências persistem. A deformação em certas partes vitais vai retraindo este ser, este ser que não vive em paz e que tão cedo não o poderá fazer. É a altura de acordar, fazer o tratamento. É que desta forma o seu filho vai sair igual, e o seu neto também, e nem o seu bisneto fugirá à regra, e por aí em diante.

Temos que saber se é o mundo que queremos dar a quem nos suceder, e já sabemos quão difícil será a sua tarefa. Se já se terão que preocupar essencialmente com questões ambientais (claramente indiferentes a sociedades como a dos EUA, que se recusam inconscientemente a assinar o Protocolo de Quioto), não percebo o porquê da continuidade do retrocesso civilizacional que caracteriza ainda muitas sociedades deste planeta.
As suficientes para continuar a deixar o corpo deformado.

Cumprimentos, Simão Martins

4 comentários:

Vitor Reis M disse...

Simão,

O que todos vemos suceder no mundo é decepcionante numa óptica de curto prazo mas enorme se visto num horizonte mais vasto, digamos de 60 anos.
É preciso ver que em 1947 tínhamos muito da Europa em ruinas, as sociedades europeias contaminadas pelos resíduos da guerra, pelas estirpes do nazismo e do estalinismo, mesmo as sociedades médias europeias estavam dominadas pelo ruralismo oligarca, corrupto e nepotista.
Os últimos 60 anos levaram às arábias, a África, à América Centro e Sul ventos de progresso económico e de democracia nunca antes conhecidos.
Mesmo na Europa, o espaço fortemente rural, inculto, terra de caciques e párocos obscurantistas, deu origem a novas urbes onde gravitam actividades de lazer e cultura que hão-de trazer progresso, nem que seja dentro de 1 a 2 gerações.
Em suma, é certo que Bush filho demonstra que a insanidade vive ainda no nosso tempo e tem crédito e povo. Mas atenção que a modernidade ganha terreno e alastra mundo fora. Imparavelmente, também em Portugal.

Simão disse...

Certamente, mas aquilo a que me referia é por vezes a forma como a Modernidade actua, e qual a sua influência. Quando ela não chega a certos países (onde seria fulcral), o que acontece é realmente o cenário bem conhecido de certas oligarquias que conseguem sobreviver na conjuntura actual.

Vitor Reis M disse...

Há uma ideia, quase uma filosofia, que pode fazer a diferença, acelerando a penetração dos valores humanistas e democráticos nas sociedades fechadas e corruptas: a globalização.
Sim, sei que não é uma ideia popular. Há alguns anos também eu teria mais dúvidas.
Hoje, vejo na globalização, fenómeno em primeiro lugar económico, social, só depois cultural, vejo nela um potencial extraordinário, o de poder levar aos confins do mundo o impulso do consumo, da vontade de ter, de ver, de saber.
O contágio dos canais de circulação de bens e marcas é capaz de criar camadas médias nas sociedades fechadas, democratizando primeiro o dinheiro e depois, inevitavelmente, levando à emergência de mais comida, mais conforto e mais cultura para todos.
E esta de que o mercado verdadeiramente livre encerra talvez o gérmen mais forte de ataque ao obscurantismo e às oligarquias?
É controverso que se farta, eu sei.

Anónimo disse...

Grande post, desculpa só poder comentar agora, já era para o ter feito há dias mas faltou a luz enquanto escrevia e depois perdi a vontade :O

Mas agora que ganhei coragem, fá-lo ei como deve de ser (ou não). Ok chega de introduções.

Lamentas haver guerras com interesses implícitos. TODAS as guerras têm interesses, agora se são implícitos ou não, depende da época que estudemos determinada guerra. Creio que hoje, ainda não conseguiremos desvendar todos os interesses por de trás desta "guerra santa" americana (Há que adorar o tom irónico).
Mas nada de tem de irónico o facto que George W. Bush não é parvo de todo, pode ser ignorante que nem uma besta, mas não é parvo. Há que dar mérito a todo o conjunto de eventos que para mim culminaram com a execução de Saddam Hussein. Ora bem, vejamos por esta prespectiva.
Após 11 de Setembro de 2001, os americanos estavam em estado de choque não só pelo sentimento de perda mas posteriormente pelo sentimento de raiva para QUEM QUER QUE TENHA FEITO AQUILO. George W. Bush fez algo íncrivel que merece mérito. Encontrou um culpado e usou tudo ao seu alcance para o perseguir e encontrar dando algum sentido à perda que os americanos sofreram, é pena o sentido ser raiva e vingança. Até 2003, Bush falhou a encontrar o primeiro culpado. Com o culminar de vários outros eventos, implica indirectamente o governo Iraqueano (chamem-lhe coincidência macabra se quiserem) e a perseguição ao terrorismo continuou indirectamente no próprio berço da humanidade. Os americanos estão em relação ao mundo muçulmano (quem disser "Arábe" leva um tiro :P) na mesma situação em que os portugueses estiveram (e muitos ainda estão infelizmente) em relação aos negros durante e após a Guerra Colonial. Os americanos sentem que por cada Iraqueano abatido, fez-se justiça... o troco da moeda é que sempre que cada extremista iraqueano assassina um americano ou um "ocidental" (há pessoas que deviam de aprender Geografia antes de aplicarem este adjectivo à balda) fazem a sua justiça. E assim estão nesta roda triste, mas engraçada. (humor negro)

Uma união entre a Europa contra os EUA para mim é algo improvavél. Estamos já tão contaminados com a Globalização (que eu chamo mais de americanização) que até mesmo começamos a neglegenciar as nossas estáveis Sociais-Democracias em prol do novo Neoliberalismo e capitalismo absurdo. Podemos dizer que, o plano Marshall está AGORA a dar frutos.
E assim permanece este desiquilibrio politico e mundial que assistimos deste a queda da URSS.

Agora, queria exprimir a minha tristeza em relação ao programa "Grandes Portugueses" (como se não fosse mau o suficiente ouvir alguém dizer que Sócrates é o actual presidente da Republica no Bela e o Mestre). Eu não estou a dizer que a ideia do programa "Grandes Portugueses" fosse caca como a Bela e o Mestre, ao menos resulta onde o outro falha, teve algum aspecto pedagógico (o que é pena saber que haviam pessoas que nunca tinham ouvido falar de D. João II, D. Afonso Henriques e Infante D. Henrique. A minha tristeza assenta nos resultados que são realmente... tristes.
ESMAGADORA maioria votou em Oliveira de Salazar e o líder comunista ficou à frente de nomes como Aristeles Sousa Mendes, Fernando Pessoa, Luis Vaz de Camões e outros grandes génios e visionários como D.João II. Eu de facto perdi a vontade de continuar a ver aquilo quando Salgueiro Maia foi posto de fora... outravez, um verdadeiro herói português foi... esquecido em prole do quê? Salazar.
Está correcto que isto foi apenas um concurso e não uma adição histórica como será a eleição das novas sete maravilhas mundiais mas mesmo assim, entristece-me ao ver o nosso país desta maneira, ignorante.
Sei que isto foi "off-topic" mas aqui estão os meus latigos em relação a isto.

Cumprimentos,
É pena não encontrar nada para discordar contigo neste post, Simão :/