segunda-feira, janeiro 29, 2007

“Eu tenho duas mães. E tu?”


Era uma vez uma menina chamada Marisa que tinha doze anos e andava numa escola, como todas as meninas da sua idade. O que muita gente estranhava era o facto de Marisa ter duas mães. Aliás, costumavam perguntar-lhe “Marisa, as tuas mães fazem amor?” ao que ela respondia “Claro! Porquê, os teus pais não fazem?”. Isto demonstra que o que se diz acerca da educação “anti-natura” de duas mulheres em relação a um filho não é verdade. Por exemplo: Um dia, na sua nova escola, foi-lhe entregue uma ficha de inscrição para preencher com os respectivos dados pessoais, um processo burocrático inerente a todos os alunos. Quando ia a preencher o espaço destinado ao nome do pai, riscou a palavra PAI e escreveu MÃE por cima. Como seria de esperar, o facto despertou algumas reacções adversas à sua atitude, mas a directora da escola achou por bem abrir uma opção nos campos de preenchimento ao possibilitar que fossem colocados dois nomes de pai ou dois nomes de mãe. É de facto curioso podermos observar a naturalidade com que Marisa age no seu dia-a-dia, como se a sociedade em que vive aceitasse a sua condição de «filha de duas mães». Aliás, por vezes Marisa refere que “é tão chato ter duas mães! Agora tenho mesmo que fazer os trabalhos de casa porque a vigilância é a dobrar!”. Cheio de ironia mas ao mesmo tempo tresandando a genuinidade e alguma inocência, esta é talvez a melhor definição para o discurso de Marisa, que ainda vive à espera de que as mães se possam casar, o que melhoraria a situação actual em que se encontram.
Será que seria diferente se tivesse um pai e uma mãe em oposição à sua situação actual? Sê-lo-ia certamente, pois Marisa tem um pai que foi casado com a sua mãe. Será que temos o dever de obrigar uma criança a ficar com o pai biológico que a maltrata, tratando-se de mais um alcoólico sem escrúpulos? Não é então aqui que entram os “intocáveis direitos e condições das crianças”? Se o bom senso e o discernimento não nos servem para nada confrontados com a legislação, o que é que nos salva?
Com efeito, Marisa é sem sombra de dúvidas uma criança muito feliz, e não é por ter uma mãe a mais ou um pai a menos ou vice-versa. É por ter uma família.

Cumprimentos, Simão Martins

7 comentários:

Anónimo disse...

E ela nunca ia querer outra coisa...

Só não percebo onde é que raio é que um casamento homossexual prejudica a vida de uma população. A população contra os casamentos homossexuais é que prejudica a inteligência média do nosso país...

Beijinho*

Anónimo disse...

uh... porque estás num estado cuja religião oficial é o catalocismo (ou será cristianismo?)?
lol tenho a certeza se for perguntar a uma dessas beatas que frequenta a missa aos domingos se ela é cristã ou católica ela não o saberá responder :P

Anónimo disse...

"Será que temos o dever de obrigar uma criança a ficar com o pai biológico que a maltrata, tratando-se de mais um alcoólico sem escrúpulos?"

Sem duvida uma questao pertinente caro colega=)Eu propria há onze anos que nao falo com aquele a que, supostamente deveria chamar "pai" e nao é por isso que sou menos feliz. Mas passando ao ponto principal: a questão do casamento homossexual. Sinceramente não percebo porque não é autorizado. Preconceitos impostos pela religiao? Ou pura e simplesmente preconceito? Enfim... O facto é que nem sempre o que é ortodoxo é o mais correcto e se um casal homossexual pode dar amor e carinho a uma criança que de outra forma não o iria receber qual é o problema disso?
A sociedade tem que deixar de ser preconceituosa para poder evoluir!

Anónimo disse...

Eu concordo plenamente na possibilidade de adopção de uma criança por um casal homossexual no entanto, teimo em afirmar que dou prioridade aos casais heterossexuais nestes casos.
Porquê? Discriminação? Não, pelo menos por mim mas o facto é, que ainda vivemos numa socieadade com normas vincadas na religião o que faz com que o conceito geral de "normalidade" seja: um pai, uma mãe principalmente com a adição de um irmão/irmã e um golden retriever no quintal... modelo American Dream mas não estamos nos States e além disso não existe American Dream nenhum. Mas voltando à situação Homo vs Hetero: o que se trata é saúde mental e psicológica de uma criança. O exemplo que o Simão deu é muito bonito e quase nos enche os olhos de lágrimas mas é um caso único e caricaturado faltando apenas o "e viveram felizes para sempre" no fim.
Mas o facto é: as pessoas são mesquinhas e as crianças conseguem ser crúeis (por vezes inofensivamente) umas com as outras e, ser-se diferente no mundo de hoje é um risco: ou é o caminho para o sucesso absoluto ou é completamente o inverso.
Basicamente, o colega tem TV cabo, a criancinha quer a TV cabo, tem internet, quer internet, tem um pai que o vai buscar à escola... hmm, quer um pai/mãe... a experiência de ter um pai/mãe... impossível em muitos casos de pais homossexuais.
Mas isto aplicar-se-ia nas listas de espera e burocracias para adopção de uma criança onde na minha opinião os casais heterossexuais devem de ter prioridade sobre os homossexuais.

"Flame at will!"

Anónimo disse...

Paulo:

Nós estamos num Estado onde a religião maioritária é a católica. Mas também estamos num estado laico desde o século XVIII! Nenhuma decisão do governo pode passar por quaisquer convicções religiosas. Está na altura de evoluir e deixar o preconceito para trás... E sabes, as influências masculinas e femininas não vêm só de um pai ou de uma mãe, mas de um professor, de uma amiga, de um médico, de uma senhora de uma loja, etc. Se fosse obrigatória essa tal "normalidade" de que falas, uma pessoa solteira também nunca poderia adoptar!

enfim, amei a crónica :D

Anónimo disse...

Por alguma razão as pessoas solteiras têm mais dificuldades em adoptar uma criança do que um casal estável. O mesmo, acho correcto aplicar-se a casais homossexuais.
E por falar em "normalidade", mães ou pais solteiros com filhos é mais comum do que um casal homossexual e não será tão criticado pelos demais cidadãos. É muito bonito dizer-se que temos de evoluir etc mas isso não é um processo rápido, este tipo de consciencialização demora pelo menos uma geração a criar raízes, desde que essa geração já tenha acesso à educação e a uma qualidade média de vida. Receio ainda não ser a nossa geração que vá vincar esta evolução do pensar. Ainda existem muitos jovens homofóbicos e muitos jovens homossexuais oprimidos não só pela sociedade mas por eles próprios. Enquanto a homossexualidade não for vista como algo normal este caso único não se multiplicar-se-á. Há quem diga que a homossexualidade seja uma disfunção de teor hormonal ou psicológico e talvez haja alguma fundo de verdade mas, na minha opinião, é apenas uma escolha que se diferencia das normas vigentes e afinal, onde está o problema em ser-se diferente? É esse mesmo o problema. Não se tolera a diferença apesar de ser esta o motor de revoluções e evoluções em diversos campos... enfim. O lado positivo é que isto não é um problema exclusivamente lusitaneo... homofobia e intolerancia à diferença é um problema social transnacional... Apenas a intensidade da intolerancia varia.

Anónimo disse...
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