quarta-feira, janeiro 31, 2007

SIM


Uma questão no campo fonético: diz-se "abôrtos" ou "abórtos"? Mas isso também não interessa nada.

Aproveitando não só o facto de ontem ter começado a campanha para o referendo sobre a despenalização do aborto, que se irá realizar dia 11 de Fevereiro, mas também tendo em conta o debate de segunda-feira no Prós e Contras, retomo assim uma discussão deixada em standby de há uns posts para cá.
Pois bem, se houve razão pela qual vi o debate, foi a de querer ir dormir um pouco mais informado sobre o assunto. E não é que tal aconteceu?
Para quem ainda não percebeu, a pergunta que nos é colocada para votarmos "sim" ou "não" dia 11 («Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?»), apenas visa uma alteração no código penal que, se o "sim" ganhar, deixa de penalizar as mulheres aquando duma decisão que tomam que é a de interromper a formação de algo que mais tarde se tornará num ser humano. Se o "não" ganhar, como podemos ver num post de há uns dias do Random Precision (ver nos links), a única coisa que vai mudar é precisamente nada.
Apercebi-me que votar "não" ou não votar é precisamente a mesma coisa, na prática.

Então, se os partidários que são contra o aborto acham tão bem votar não, por que é que não lêem melhor a pergunta e dão maior atenção a estas quatro palavras: "(...)por opção da mulher(...)"? Trata-se de uma opção, uma mera opção! O que quer dizer que, partindo do princípio da liberdade de escolha e de opção, só faz quem quer. Certo?
Se condenam assim tanto quem faça um aborto às dez semanas, por que é que consideram menos humano o feto proveniente duma violação, cujo período limite de aborto é até às doze semanas? Que eu saiba, a sua formação até já vai mais avançada que as dez semanas propostas em referendo. Em Espanha, por exemplo, o aborto é permitido até às doze semanas, o que é de facto muito curioso. Serão eles os maiores carniceiros de que há memória? Ou teremos nós aqui mais um caso em que decidimos deixar-nos ficar para trás? Embora aparente tal coisa, o meu argumento não assenta neste pressuposto de que "lá porque a Europa faz, nós também temos que fazer, etc".
O meu argumento baseia-se no desejo de uma legítima liberalização desta opção que é a interrupção voluntária da gravidez, por ser um direito a que qualquer mulher tem de ter acesso. Claro que os abortos vão aumentar, se o "sim" ganhar, claro que vão. Mas isso é porque desconhecemos os números exactos de abortos clandestinos efectuados anualmente.
O "sim" vai acabar com a clandestinidade do aborto, vai acabar com a humilhação das mulheres, e com o perigo da sua morte aquando dum aborto clandestino. Isso não significa que se faça "ao pontapé", como alguns favoráveis ao "não" afirmam veemente. Deve haver coerência num acto desta natureza e não acredito que o governo não crie organizações de apoio prévio a mulheres que desejem fazer um aborto. Se o fizerem, não deverão ser proibidas. Se não morrerem, tudo bem. Se ficarem com traumas pós-aborto, paciência, mas só elas é que se podem julgar a si mesmas por terem abortado.

Como dizia um professor meu, e aplicando novamente as suas palavras: "Quando se dá a máxima liberdade, tem de haver a máxima responsabilidade".

Cumprimentos, Simão Martins

16 comentários:

Anónimo disse...

Isto vai ser interessante:

O Não vai ganhar. Isso tá mais que previsto e de certa maneira após ter ouvido a "explicação" do professor Marcelo Rebelo de Sousa (que a todos vos aconselho a ouvirem, facilmente encontram no youtube.com) percebo que a opção NÃO é a mais indicada... e acho que para não vos dar mais leitura porque o que eu iria dizer aqui seriam exactamente os mesmos argumentos que o professor uso, convido-vos a ouvirem o seu discurso muito, mas mesmo muito esclarecedor... porque pelos vistos, a pergunta feita no referendo não é de todo inocente e não zela pelos interesses morais ou éticos mas mais pelos politico-legislativos o que é triste... eu não me pronuncio mais não antes de vocês terem em conta isto:

http://www.youtube.com/watch?v=AfrMHnT3jKE

Vejam como apesar do muito que o professor diz ser identico ao que acreditamos, ele remete-nos para a triste realidade do objectivo do refendo...

Anónimo disse...

Subscrevo e acrescento: porque raio é que um filho de um violador ou um filho deficiente já pode ser abortado? É menos pessoa do que os bebés saudáveis ou que são fruto de um relação consensual?

Peço desculpa a quem se possa ofender, mas votar NÃO é hipocrisia!

E é incrível e triste ver pessoas como a Kátia Guerreiro com ideias salazaristas...

Realmente, matar pessoas nas guerras não é crime, matar alguém em legítima defesa não é crime, mas abortar é assassínio?

enfim... * (Paulo, resposta no último post)

Anónimo disse...

Olá boa Tarde!

"menos humano" - Não se trata de ser mais ou menos humano, simplesmente esse filho não foi gerado pela vontade da mãe. Quando duas pessoas têm relações sexuais (hoje em dia já é necessário dizer de sexos opostos) já sabem à partida, caso não se previnam, das consequências que daí advêm, logo, ambos querem ter aquele prazer. No caso da violação, não. A mulher foi obrigada... e como tal, pode decidir como melhor lhe apraz, porque ninguém quererá que ela veja o violador no filho.

Um dado curioso: Na Alemanha, país onde o é legal o aborto, oferendem até 25 mil euros, consoante os rendimentos, para incentivar as mulheres a terem filhos; isto porquê? Porque a taxa de natalidade está a vir por aí a baixo. É espantoso como os Alemães metem, nos impostos, dinheiro para se abortar e fazer nascer seres humanos :O. Pronto, tudo bem, compreendes.se, desta forma, a taxa de natalidade e a taxa de mortalidade infantil atinge um certo equilíbrio.

ohh well, é engraçado como um tema como este faz criar tanta desordem e tantas 'guerras', por isso fico na minha, por mim, não se mexia. Curiosamente se o 'não' ganhar, decerto que dentro de 10 anos haverá outro referendo, mas se o 'sim' ganhar, acredito que, NUNCA mais haverá referendos a perguntarem se desejam, ou não, continuar com essa lei. É assim que estão as coisas... Quando lhes agrada, tomam a minha posição: Mudar? para quê...?

Cumprimentos.
.feio_do_irc.

Anónimo disse...

Peço desculpa por alguns erros x)

"País onde é legal o aborto"

"Oferecem, até 25 mil euros"

Anónimo disse...

Acerca do caso de violação... o feio já opinou e muito bem sobre isso. Acerca em caso de saúde do feto, duvido que se aborte porque ao filho lhe falta um mendigo. Eu tenho os meus dedos anelar e intermédio tortos nas mão e estou cá lol. Mas fora de brincadeiras, uma vida presa a uma cadeira de rodas e a uma consciencia infantil perpétua é uma pena ainda mais cruel do que uma pena de morte.

Anónimo disse...

oh c'um caraças:

*compreende.se

(hoje estou particularmente queimado =/)

peço desculpa

Anónimo disse...

na minha opiniao acho que nao e apenas uma questao de escolha, passo a explicar.. um dos argumentos que me fez escolher o nao ao aborto, e o facto de nenhuma mulher quer fazer um aborto, nenhuma mulher gosta de fazer um aborto.. esse e um facto e mts vezes as mulheres fazem pq sao de certa maneira influenciadas e presionadas a isso, qd ha maneiras de apoio as mulheres gravidas e aos seus filhos que podem por exemplo ser entregues para adopcao. Outro ponto que me faz optar pelo o nao, e o facto de cada vida ser unica.. o embriao com varias semanas nao e um ser humano mas e um ser vivo unico que se ta a formar,e interromper esse processo e por fim a sua vida.. por exemplo num questionario fizeram esta questao a varias pessoas Se tivessem que optar por uma das maes fazer um aborto qual e que escolhiam? uma mulher com sifilis e 5 filhos incluindo dois deles defecientes,ou uma mulher de classe media normal de saude com dois filhos.. toda a gente escolheu a mulher de classe media com dois filhos... pois mas nesse caso tavam a matar o bethoven.. pq o bethoven era filho de uma mulher com sifilis e tinha 2 irmaos defecientes, isto td para dizer que cada ser e unico e tem direito a vida quem somos nos para julgar, uma coisa que tb e importante.. ha longos anos atras e que era mt grave uma mulher engravidar tinha de casar as escondidas e era uma vergonha senao se conhecesse o pai,mas hoje em dia com as opcoes e as ajudas que ha a mulher tem nao se justifica.Se o sim ganhar os abortos vao aumentar pq vai ser mais facil ,mais acessivel e mais aceite fazer um aborto o que e mau no ponto de vista. pronto fica aqui a minha opiniao um abraco

Anónimo disse...

Torres, baralhaste.t um bocadinho x)

Quote:

---> "Se tivessem que optar por uma das maes fazer um aborto qual e que escolhiam?
(…)
toda a gente escolheu a mulher de classe media com dois filhos...

=)
cya o/
.feio_do_irc.

Simão disse...

Feio do Irc, as coisas não são assim tão simples. O facto de uma mulher engravidar não faz com que ela deseje esse filho, fruto ou não de uma violação e deve ter o direito de não o querer ter.
Em relação a dizeres que se o sim ganhar já não vão haver mais referendos, na minha perspectiva isso não é bem assim. Espera até que um governo de direita (mas bem chegadinho para a direita) tome o poder e depois falamos.

Torres, quando dizes que se as mulheres não abortarem há orfanatos para as crianças, estás do lado de quem? Aceito que sejas pelo direito à vida (afinal de contas, qual de nós não o é?), mas acho que é sempre preferível uma criança ter uma família a ser deixada numa instituição.


Mas eu já disse e volto a frisar: este referendo trata-se de uma alteração da lei! Só faz quem quer, os juízos morais ficam para os próprios.

Anónimo disse...

Quote:

"Espera até que um governo de direita (mas bem chegadinho para a direita) tome o poder e depois falamos."

Dou.t toda a razão, daí a minha afirmação: "se o sim ganhar, não haverão outros referendos"
xD

Quer dizer... a não ser que os partidos de esquerda comecem a cometer erros crassos =P

Peace.
.feio_do_irc.

Anónimo disse...

Se tivermos um desses governos "chegadinhos mesmo à direita", nessa altura então é que sim, podes dizer adeus a qualquer referendo. Podes até dizer adeus ao teu cartão de eleitor.

Simão disse...

Pois Paulo. E nós não queremos que isso aconteça pois não?

Além disso, não quero ver mulheres sujeitas a irem para a cadeia por terem decidido não ter um filho. Enfim...

João Francisco disse...

paulo Vicente não concordo mesmo nada contigo, o discurso do Rebelo de Sousa é tudo menos esclarecedor. É mesmo do mais ambíguo que vi. Mas para não estar a ocupar um comment desnecessariamente, deixo a sugestão: visitem www.livingatheist.blogspot.com , lá encontrarão a minha opinião acerca deste assunto, entre outras coisas.
Simão, os ensinamentos do Cícero ficam para vida, né miúdo? Lol
Abraço

Anónimo disse...

já que falas no "Prós e Contras" deixa-me ressalvar na enorme intervenção de Vital Moreira, a favor do sim - o modo como "ownou" o Dr.Aguiar Branco e aquele pessoal todo (Fernando Santos - sim, o treinador do Benfica -, Kátia Guerreiro, Ana Brito e Cunha, entre outros) foi notável e a maneira como expressou o seu pensamento, é simplesmente notável.

Agora, Paulo, eu não concordo contigo...para o Prof. Marcelo, a mulher aborta porque sim - diz-me alguma mulher q faça um aborto de livre e espontânea vontade : "opa, hj n faço jantar e vou abortar" - preferes q com o não pessoas sejam presas, as mulheres tenham condições mínimas para abortar, ficando inférteis ou morrendo? e já agora, o Prof.Marcelo diz que a aborto em caso de violação ou em caso de deficiencia é legal... então esses também não tinham direito à vida? incoerencia, não?

abraços, beijinhos e arrobas do Pedretti

Anónimo disse...

São casos especificos os de saude debil do feto, da mãe ou por caso de violação. E a lei já previne esses casos. Agora... se eles têm direito à vida, isso é uma pergunta que não se faz, claro que têm. Mas será que a mulher tem que sofrer as consequencias por uma relação sexual a que foi FORÇADA? Ou será que tem de MORRER para dar a luz um bebé que tem direito à vida? Ou será que tem de dar à luz um ser humano preso a um saúde débil perpetua, uma penitencia que estaria a pagar sem saber porquê.
No entanto, nenhuma mulher faz um aborto de livre espontanea vontade... ou será que fazem? Vamos estereotipar? Há casos e há casos. Muitas mulheres de facto são forçadas directa ou indirectamente a abortarem contra a sua vontade e uma despenalização total sobre isso só fará com que seja muito mais fácil a essas mulheres serem obrigadas a abortar.

Eu uma vez digo mais, a questão do aborto nem se quer se deveria de pôr em questão. Deveria de ser o último dos recursos. O que deveria de ser posto em prática seriam um conjunto de medidas de apoio a mulheres grávidas sem condições para ter a criança e uma desburocracização dos processos de adopção. É claro que dar a volta ao assunto é uma coisa muito díficil para os portugueses... é como comparar cartografos franceses com portugueses, enquanto os primeiros conseguem acabar o trabalho mesmo com falhas de software, os segundos se tiverem uma falha de software limitam-se a dizer: "Por meios técnicos não foi possível realizar o trabalho et cetera"
Este referendo é apenas mais uma luta politico-legislativa e onde os valores éticos e morais são esquecidos em prole dos valores politicos vigentes.
É mesmo uma total liberalização do aborto a solução? Facto é: se o NÃO ganhar, ficamos na mesma mas... será que estamos mal na mesma? Mas... se o SIM ganhar, quais são as garantias que irá melhorar? De facto, o SIM só nos irá dar uma parte da ideia da quantidade de abortos clandestinos se fazem (que é o factor que se deveria de ter mais em atenção na criação deste referendo) no entanto, ainda irão haver muitos mais abortos clandestinos depois do limite tempo de formação do feto imposto legalmente.
Eu vou votar SIM, mas tenho dúvidas se o futuro de uma mudança destas trará realmente alguma evolução. Talvez o meu unico consolo será o facto de ter a certeza que o NÃO irá ganhar o que fará com que o referendo seja revisto e melhorado.

[quote]Subscrevo e acrescento: porque raio é que um filho de um violador ou um filho deficiente já pode ser abortado? É menos pessoa do que os bebés saudáveis ou que são fruto de um relação consensual?[/quote]

Outra coisa, esta quote Raquel, está me a meter uma confusão... e só agora é que reparei nela mas... por favor, pensa bem no que escreveste... reflecte um bocado, uns minutinhos devem de chegar e agora... imagina-te que não foi a mulher que apareceu na televisão a dizer que foi violada mas sim que foste tu. Primeiro, a tua psique provavelmente iria completamente abaixo mas mais tarde descobrias que estavas grávida daquele criminoso cuja face a tua psique provavelmente já teria bloqueado, qual seria a tua reacção ao descobrires que estavas grávida desde demónio sem cara? Aceitarias, altruisticamente esse rebento? Eu, mesmo que fosse mulher e se tivesse numa situação dessas, não sei como reagiria. Tu sabes?
Agora, por amor de Deus, não me venham cá com exemplos a dizerem que os partidários do NÃO entram em contradição quando permitem um aborto dum feto deficiente ou fruto de uma violação e não permitem um aborto de uma relação sexual "normal".
Eu tenho consciencia que este último exemplo que dei foi muito crúel mas é efectivo. É muito díficil dizermos coisas bonitas sem antes nos imaginarmos na pele dessas pessoas.
Na série Manga intitulada de Berserk de Kentauro Miura, há uma personagem que até ao climax da série cria amizades com dezenas de pessoas mas, antes desse climax foi capturada e torturada durante 2 anos... antes de morrer foi-lhe oferecida uma nova vida por "Deus" (que Kentauro Miura O define como também sendo o Demonio) se a personagem aceitasse sacrificar os seus companheiros. Em desespero Griffith, aceitou. Para que ele pudesse viver, 500 homens e mulheres morreram. Podem dizer que este parelismo não tem nada a ver e talvez tenham razão mas... o que Griffith fez foi incorrecto mas, não o fariam vocês também? É muito díficil responder, por que tal como no caso de uma mulher que está decisa entre se deve abortar ou não, ela terá de escolher não só em prole do seu bem e do do seu feto mas como também em prole das normas vigentes na sociedade. A escola correcta, seria sempre NÃO abortar e a legislação dará impulso para que não tome essa decisão mas, por outro lado prende a mulher a essa mesma decisão. Agora, nós todos, reflectamos sobre isto, imaginemo-nos mulheres grávidas sem condições... va lá, economicas para não chegarmos a extremos e perante o dilema do SIM ou NÃO... conseguem imaginar-vos nesse caso? É díficil. Ainda mais dificil o é se estivermos "sozinhas". E aqui chegamos à minha sugestão anterior de flanqueamento da questão... Nenhuma mulher alguma deveria de tomar uma decisão deste género sem antes ter qualquer acompanhamento psicológico e economico mas lá está, o eterno problema, é mais complicado dar a volta. É preferivel ir-se sempre pelo caminho mais fácil.

Bem, são 2 da matina, e já ando a trocar as teclas e antes que prove a teoria do Big Bang neste post, despeço-me mas não sem antes vos pedir para reflectirem no que foi escrito aqui, dito ali e discutido aculá e que dia 11 tracem uma cruz sem dúvidas na opção que escolheram mas não sem antes ponderarem a outra opção

Anónimo disse...

E o k eu digo..calem-m essa raquel