quinta-feira, dezembro 21, 2006

Jingle Bells...


Depois de mais de uma semana sem «postar», decidi fazer umas sugestões natalícias.
Apesar disso, o que elas têm de menos são o natalício (já irão perceber porquê).
A primeira sugestão é a leitura de um dos mais famosos livros de Franz Kafka, A Metamorfose. A temática essencial desta fabulosa obra é a importância da comunicação para a sobrevivência do ser humano (metamorfoseado ou não). Muitos poderão discordar. Gregor Samsa irá com certeza concordar.
Já no campo cinematográfico, um filme de 2005 da autoria de David Cronenberg (realizador de Existenz, 1999): Uma História de Violência. De facto o filme em si faz jus ao título. Com Viggo Mortensen no papel principal (grande interpretação, fica a referência), a história trata dum homem pacato que vai vivenciando o chamado American Dream, aquele tipo de homem de quem todos gostam e que aparentemente não faz mal a uma mosca. Pois não é bem assim. E estaria a ser incorrecto e egoísta se descrevesse aqui o desenvolvimento desta conturbada história. Fica ainda um alerta para os mais sensíveis, em relação às bem definidas cenas de pancadaria, em que Cronenberg é um entendido na matéria.
A última proposta tem por nome Tó Mané. Um rapaz bem disposto de guitarra ao colo que tive o prazer de ver tocar ao vivo 4ª feira à noite no PALPITA-ME, um bar no bairro alto. Música portuguesa (apenas covers), com grande incidência em Jorge Palma e Zeca Afonso, e acompanhado pelo piano.
Para terminar, chegou a altura das boas festas, e só me resta desejar um bom natal a todos. Muitas prendas, mais abraços e, espero eu, mais alegria por esse mundo fora.
Menos guerras.
Menos pobreza.
Será?
Não sei.
Mas enquanto o homem existe, e se é certo que existe porque pensa (Descartes), podia pensar mais nos que estão para deixar de existir. Não é muito complicado: basta fazer um esforço.
Cumprimentos e um feliz natal, Simão Martins

terça-feira, dezembro 12, 2006

Os melhores de 2006

Como o ano está a chegar ao fim, penso que está na altura de eleger aquelas que foram as três bandas que mais marcas deixaram em 2006 no mundo da música pop/rock, o meu estilo de eleição.
Assim, a banda que fica com o ouro são indubitavelmente os Arctic Monkeys com o seu Whatever People Say I Am That's What I'm Not, o grande disco de eleição de 2006. Curiosamente, com as discussões que vêm sendo geradas em torno do tema dos downloads de cd's através da Internet, estes britânicos de Sheffield alcançaram o sucesso ao colocarem as suas músicas à disposição para downloads gratuitos. Este facto confirmou-se, ao venderem 120000 cópias logo no primeiro dia, batendo todos os recordes de grandes mitos do meio musical (Beatles, Elvis, Oasis, entre outros). Além disso, venceram inúmeros prémios entre os quais o Mercury Prize (raramente é atribuído a uma banda com tantas vendas), aquele que é o mais prestigiante prémio neste género musical.
Em segundo lugar, os já conhecidos Muse, com um quarto álbum de originais surpreendente, Black Holes and Revelations, tendo também este sido nomeado para o Mercury Prize. Num cd marcado pelo cariz claramente político, em músicas como Take a Bow, City of Delusion ou Knights of Cydonia, conseguem conciliar não só todo o seu som esquizofrénico e psicadélico mas também um estilo que aponta maioritariamente para o pop/rock, como os dois primeiros grandes singles, Supermassive Black Hole e Starlight. Incontornável.
O bronze calha aos nova-iorquinos Yeah Yeah Yeahs com Show Your Bones. Um cd que podemos considerar simples, imediato e ao mesmo tempo fascinante, que tem em Gold Lion ou Cheated Hearts os grandes sucessos, sem deixar de referir a total dependência da banda da sua líder carismática, Karen O.
Não sei se esta eleição se deve ao facto de ter tido o prazer de observar todas estas bandas ao vivo em Portugal ao longo do ano, em que todas elas apresentaram, umas, os seus novos trabalhos, outras, o início da caminhada na «auto-estrada» da música (digo auto-estrada pois em Portugal apenas nos é permitido percorrer uma estrada, não havendo grande probabilidade de projecção internacional, sendo acessível apenas a alguns). Fica esta humilde proposta de quem anseia saber mais, e esperava ter tido possibilidade de ouvir ainda mais bandas que lançaram novos projectos em 2006, consideravelmente um ano de boas colheitas!
Cumprimentos, Simão Martins

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Liberdade de expressão: absoluta ou relativa?


O tema que me proponho a abordar neste post é a liberdade de expressão, em relação a manifestações do tipo religioso, político e social. Para tal, vou descrever uma situação que pode suscitar diversos pontos de vista e que me parece servir de óptimo primeiro tema de debate no Enquanto houver estrada para andar.
O caso ocorreu então numa determinada escola de Loures. Os intervenientes não são mais que dois: a directora do conselho executivo, e uma aluna do secundário. E passo a descrever o tema da discussão:
Segundo a dita aluna do secundário (bem conhecida aqui pelo bloguista), já há mais de três anos que se encontrava pintada e bem visível, numa parede de um dos pavilhões da escola, uma cruz suástica. Dispensando apresentações, este símbolo representa aquilo a que a história chamou o nazismo. E como também este conceito dispensa qualquer apresentação, podemos decerto depreender que não será muito pedagógico permitir a existência dum símbolo com estas características num local destinado à formação de jovens, neste caso, uma escola de ensino básico e secundário. Nem sei se a ignorância de alguns lhes legitimará afirmações como: “Bem, que símbolo cheio de estilo, não sei o que quer dizer, mas parece-me bem!”, ou como tive a infelicidade de ver num telejornal, ao perguntarem a um jovem quem tinha sido Che Guevara, ao que ele respondia: “Um grande jogador de futebol!” (são estes os inconvenientes da liberdade de expressão). Mas enfim.
Continuando, a aluna dirige-se ao conselho executivo, faz a devida e justificada reclamação, e a resposta da presidente do conselho executivo resume-se a: “Tem de haver liberdade de expressão! Se a menina visse um símbolo do partido comunista numa parede desta escola de certeza que não o mandava retirar.” De certeza que sim!
Atingimos então a questão essencial desta discussão. A liberdade de expressão é ou não absoluta? Até que ponto poderemos exprimir as nossas crenças e valores perante a sociedade vigente, sendo esta adequada ou antagónica aos nossos princípios?
Na minha opinião, a questão da liberdade de expressão nestes termos, não tem uma resolução óbvia e incontestável. Muitos defendem que deve ser permitido todo o tipo de expressão de ideais e valores. Mas não serão certos valores opressores da liberdade individual e da pluralidade de escolha enquanto direitos humanos? Deparamo-nos já aqui com uma clara contradição. Mas vejamos:
Neste exemplo, em que está pintada uma cruz suástica numa escola que abrange a escolaridade do 7º ao 12º ano, este símbolo deve ser retirado do alcance das crianças, devido a todas as suas conotações e ideiais subjacentes e recordando também que muitas delas nem sabem o que significa. Penso que a aluna deve seguir em frente com a contestação (e ela própria afirmou que, se nada for feito, irá tapar o símbolo com um spray).

Sendo assim, das duas uma: ou a directora é ignorante o suficiente para considerar a conduta nazi favorável ao ensino escolar e permitir que uma cruz suástica esteja pintada na parede de um dos pavilhões da escola; ou a situação é igual à da Holanda (o dito «país mais liberal do mundo», mas onde é permitida a existência dum partido de pedófilos e é praticada a escravatura), em que tudo é permitido e o bom senso é algo que este conselho executivo desconhece de todo.

Cumprimentos, Simão Martins

quarta-feira, dezembro 06, 2006

A gente vai continuar

A Gente Vai Continuar
Tira a mão do queixo, não penses mais nisso
O que lá vai já deu o que tinha a dar
Quem ganhou, ganhou e usou-se disso
Quem perdeu há-de ter mais cartas para dar
E enquanto alguns fazem figura
Outros sucumbem à batota
Chega aonde tu quiseres
Mas goza bem a tua rota
Enquanto houver estrada para andar
A gente vai continuar
Enquanto houver estrada para andar
Enquanto houver ventos e mar
A gente não vai parar
Enquanto houver ventos e mar
Todos nós pagamos por tudo o que usamos
O sistema é antigo e não poupa ninguém, não
Somos todos escravos do que precisamos
Reduz as necessidades se queres passar bem
Que a dependência é uma besta
Que dá cabo do desejo
E a liberdade é uma maluca
Que sabe quanto vale um beijo
Enquanto houver estrada para andar
A gente vai continuar
Enquanto houver estrada para andar
Enquanto houver ventos e mar
A gente não vai parar
Enquanto houver ventos e mar

Jorge Palma, 1982

Boa/bom noite/dia a todos. Decidi (re)iniciar um blogue e devo realçar que são neste momento três horas da manhã.
Como se devem ter apercebido, este blogue começa a sua história com uma música e não é por acaso que tal acontece. Trata-se, aliás, duma música que ouvi há menos de uma semana e que desconhecia completamente. É esta a prova de que não é por termos 18 anos que somos os suprassumos do conhecimento e de que a ignorância não é um atributo de que padeçamos. Quero com isto dizer que, como um viciado em música, descubro após a maioridade uma música que define a minha perspectiva paradigmática da nossa postura no mundo. Posso então começar a descrever o Enquanto houver estrada para andar:
Vai ser um espaço aberto a todos, em que vão ser expostos diversos temas, desde arte, política, desporto, enfim, todos e quaisquer temas que a sociedade nos vá propondo.
Espero que me ajudem, não só propondo temas a apresentar, como também criticando sem quaisquer reservas toda e qualquer observação da minha parte, se assim o acharem relevante.

Para concluir, resta-me esperar que o blogue seja bem recebido e que de alguma forma contribua como espaço de lazer, de enriquecimento cultural e até centro de debates.

Cumprimentos, Simão Martins