segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Enquanto o Jorge Palma tocar...


Foi indubitavelmente um dos grandes momentos musicais a que já assisti.
Jorge Palma ao vivo na Malaposta, não mais que 150 espectadores, o que fazia prever um espectáculo bastante agradável. Claro está, ao princípio não parecia que assim fosse: o concerto estava agendado para as 21.30 e apenas começou às 22.15. Claro está também, bastou que Jorge Palma entrasse em palco para que todo o sentimento de revolta que naqueles instantes ameaçou chegar ao clímax se dissipasse.

A partir daí, e sempre com o seu jeito meio embriagado de quem sabe o que faz, Jorge Palma foi dando lugar a canções inexplicavelmente bem sucedidas, tendo também desafiado um pouco as leis naturais da música ao improvisar duas de Zeca Afonso. Chegou mesmo a cantar um verso de Pink Floyd. No meio de esquecimento de letras, improvisos desenfreados e divagações com o público, fomos assistindo a um grande concerto.

Acabou em grande, sem dúvida, com A gente vai continuar. No entanto, fica aqui a letra de uma das melhores da noite.


Dá-me Lume

Chegaste com três vinténs
E o ar de quem não tem
Muito mais a perder
O vinho não era bom
A banda não tinha tom
Mas tu fizeste a noite apetecer
Mandaste a minha solidão embora
Iluminaste o pavilhão da aurora
Com o teu passo inseguro
E o paraíso no teu olhar
Eu fiquei louco por ti
Logo rejuvenesci
Não podia falhar
Dispondo a meu favor
Da eloquência do amor
Ali mesmo à mão de semear
Mostrei-te a origem do bem e o reverso
Provei-te que o que conta no universo
É esse passo inseguro
E o paraíso no teu olhar
Dá-me lume, dá-me lume
Deixa o teu fogo envolver-me
Até a música acabar
Dá-me lume, não deixes o frio entrar
Faz os teus braços fechar-me as asas
Há tanto tempo a acenar
Eu tinha o espírito aberto
Às vezes andei perto
Da essência do amor
Porém no meio dos colchões
No meio dos trambolhões
A situação era cada vez pior
Tu despertaste em mim um ser mais leve
E eu sei que essencialmente isso se deve
A esse passo inseguro
E ao paraíso no teu olhar
Dá-me lume, dá-me lume
Deixa o teu fogo envolver-me
Até a música acabar
Dá-me lume, não deixes o frio entrar
Faz os teus braços fechar-me as asas
Há tanto tempo a acenar
Se eu fosse compositor
Compunha em teu louvor
Um hino triunfal
Se eu fosse crítico de arte
Havia de declarar-te
Obra-prima à escala mundial
Mas eu não passo dum homem vulgar
Que tem a sorte de saborear
Esse teu passo inseguro
E o paraíso no teu olhar
Esse teu passo inseguro
E o paraíso no teu olhar

Cumprimentos, Simão Martins

3 comentários:

Anónimo disse...

A agenda, a obra, o universo de Jorge Palma em www.bloguepalmaniaco.blogspot.com
newsletter/informações: contactar ladoerradodanoite@hotmail.com

Anónimo disse...

o Jorge Palma é, provavelmente, um dos maiores letristas portugueses, sem sombra de dúvidas

até o podemos equiparar este trovador, que ganhava a vida a tocar no Metro de Paris e de Londres a um Zeca Afonso, um Sérgio Godinho (sem ser, contudo, tão influente musicalmente como estes dois)

canções como "Deixa-me Rir", "Na terra dos sonhos", "Dá-me Lume", "Jeremias, o Fora da Lei" ficaram na memória musical dos Portugueses...

abraços, beijinhos e arrobas do Pedretti

Anónimo disse...

:D JORGE JORGE JORGE!