sábado, junho 14, 2008

Viva a Vida ou a Morte e Todos Os Seus Amigos

Os Coldplay são a banda paradigmática que representam aquela síndrome de banalização que acompanham uma banda que se vê a braços com uma explosão de sucesso, após a edição de um álbum particularmente inspirado.


Hoje em dia, para alguém que se diga apaixonado pela música por géneros alternativos ou por rock em geral, é quase um sacrilégio afirmar que se gosta de Coldplay. Mas eu bem me lembro aqui há uns anos, quando surgiu o primeiro álbum Parachutes, o quarteto britânico era a grande sensação da cena Indie. Um album que poucos conheciam, mas que continha hinos que se tornaram intemporais, e tão característicos da banda, tais como Yellow ou Touble. Quando o 3º album de originais saltou para os escaparates, os Coldplay foram apelidados de vendidos, lamechas, choninhas, U2 "wannabe's", etc. Mas a verdade é que não tenho quaisquer dúvidas que, se X&Y tivesse sido o primeiro album dos Coldplay, teria tido uma enorme sucesso dentro da mesma comunidade que aclamou Parachutes ou A Rush of Blood to The Head. Mas quando uma banda deixa de agradar a 200 pessoas, para agradar a 200 mil, subitamente sofrem esta etiquetação bacoca e mesquinha, passando de anti-heróis e ídolos, a vendidos desinspirados, só porque agora enchem o Pavilhão Atlântico, em vez de encher o Santiago Alquimista.


Os Coldplay fazem baladas rock de estádio como ninguém faz actualmente. A verdade é esta. E não se propõe a fazer mais nada para além disso. Se eu quiser ouvir um album de Radiohead, ouço os originais. Não preciso, nem quero, que os Coldplay os imitem. E eles não o têm de fazer, apenas para se manterem fiéis ao público que os idolatrava no início da sua carreira. Acho que para uma banda evoluir, ela precisa, necessariamente, de aumentar o raio do seu público-alvo. Muitas tentam e não conseguem. No caso dos Coldplay, de álbum para álbum, eles foram aumentando a sua riqueza de produção, as melodias tornaram-se mais épicas e ambiciosas, e graças a isso, conquistaram o seu lugar. E para mim, há que dar mérito a isso. Mas há muito mais na música dos Coldplay, muito mais há a explorar, para lá desse estereótipo que lhes foi colocado. É só preciso ouvir com atenção.

As insistentes comparações aos U2 são uma arma frequentemente usada para minimizar e desvalorizar as obras que os Coldplay editam, numa tentativa bacoca e desesperada de descredibilizar o mérito que a banda tem em chegar aonde chegou. Não é bocado ridículo criticar quem inventou o iogurte líquido de morango, só porque já existe alguém que inventou iogurte natural há "x" anos? Não é a música uma arte em constante evolução (tal como todas as outras artes), em que as novas criações implicam sempre inspiração em obras anteriores? Não se enganem, sempre foi assim, e sempre será. Nada nem ninguém cria nada do zero. A diferença está em quem consegue manter essas inspirações o mais subtil possível, e criar uma mistura tal, que se acaba por criar o estilo próprio. E assim, a cópia transforma-se em inovação. O que é certo é que os Coldplay conseguiram-no. É música comercial? Talvez, se é fácil de se ouvir, trabalha com harmonias agradáveis de acordes em modo maior, riffs de guitarra com muito reverb, refrões orelhudos, e todo um sem número de pormenores técnicos que definem "música comercial". Mas é com certeza da melhor que para aí anda. Porque os gostos não se discutem, educam-se.


Não obstante tudo isto, os Coldplay querem por para trás essa imagem de "crowd pleasers", que tende a toldar aquilo que realmente interessa: a música.
Para o novo álbum, para além de arranjarem um título simplesmente horroroso (Chris Martin simplesmente não tem jeito para nomes nem para letras, é a única crítica mais negativa que tenho em relação a estes rapazes) os Coldplay esqueceram a fórmula A:B:A:B:C:B, para se dedicarem a explorar novos caminhos. Não tiveram medo de experimentar novos instrumentos, usam e abusam das orquestrações e sintetizadores, e as músicas tornaram-se menos óbvias. A estrutura das canções é mais complexa, e não são poucas as vezes em que encontramos mudanças drásticas no ritmo a meio de uma faixa. Existem 3 faixas escondidas, em 3 músicas diferentes, e por mais que tentemos, em Viva La Vida não existem singles óbvios. No álbum conseguimos indentificar nuances dos 3 álbuns anteriores ("Strawberry Swing" - Parachutes, "Yes" - A Rush of Blood...; "Lost!" - x&y), mas por outro lado, encontramos uma nova vontade, uma nova preocupação em ser mais imprevisível, como no muito Arcade Fireano "Lovers in Japan/Reign of Love", "42" ou no single "Violet Hill".


Um passo corajoso a tomar, mas que, a meu ver, peca por ser curtinho, e por ser demasiado óbvio. Esforçaram-se demasiado, e gostaria de ver um album mais ambicioso, mais audaz. É um album paradoxal: dá vontade de dizer que é o melhor que os Coldplay já fizeram até hoje, mas que lhe falta algo. Dentro deste género em particular há muita luta e escolha, e os Coldplay, se quiserem continuar por este caminho, precisam de fazer mais e melhor. No entanto, acho que esta nova direcção dos Coldplay é a mais acertada, e estou muito curioso para ver o que mais poderá surgir daqui. Viva la Vida não deixa de ser, no entanto, a melhor coisinha que eles já fizeram. E digam o que disserem, não consigo não gostar de Coldplay.


Alinhamento (em negrito, aquelas que mais me chamaram a atenção)


"Viva la Vida or Death and All His Friends"

Life in Technicolor
Cemeteries of London
Lost!
42
Lovers in Japan/Reign of Love
Yes
Viva la Vida
Violet Hill
Strawberry Swing
Death and All His Friends



Lost! - Coldplay

1 comentário:

Anónimo disse...

Bom Comentário João Francisco! Interessante esse teu ponto de vista ;).