quinta-feira, abril 19, 2007

O que é na verdade ser-se católico?


Aqui há uns dias, o vosso tão ou não amado bloguista esteve envolvido numa conversa que visava sobretudo um esclarecimento a partir do qual se construiria um tronco comum dos princípios fundamentais da Igreja Católica.

E a discussão não podia ter sido mais acesa (poder até podia, mas não teria sido saudável); entre acusações de homícidio em larga escala a Jesus Cristo (que também é Deus e transporta o emplastro Espírito Santo); que os católicos apenas fazem o que vem na Bíblia, etc. etc.. Enfim, um sem-número de propostas de clarificação da principal dúvida que pairava naquela bela tarde de Domingo. E como gostava de reacender essa discussão aqui no blog, com outros intervenientes (os que já o tinham feito não são remetidos para a abstenção) que queiram empunhar os seus argumentos sem receio das respostas e comentários que daí resultarem, coloco a seguinte pergunta: o que é na verdade ser-se católico?
Realmente, a resposta pode parecer-nos óbvia, quando comparada com uma pergunta do tipo "qual a raiz quadrada de 198373087393?". Mas de facto tal não acontece. Não acontece porque, como em tudo, há os prós e contras de se ser algo, e ninguém é igual a outrém. O que significa que, lá por haver um católico que defenda o extermínio dos homossexuais, isso não quer dizer que outro católico não aceite inclusivamente o casamento entre eles. Mas excluindo por enquanto os exemplos, vamos então tentar desde já elaborar uma definiçãozinha do que é ser-se católico:
- Acreditar numa entidade superior que governa todos os seres vivos e o mundo (Deus);
- Acreditar na existência de Jesus Cristo (e na Santíssima Trindade, com o Pai e o Espírito Santo);
- Reger-se pelos ensinamentos da Bíblia (os Dez Mandamentos).

Ora, penso que para o primeiro ponto, é simples. Apenas se acredita ou não. É aquilo a que se chama fé, a tal irracionalidade tão mediatizada e nunca comprovada ou irrefutada. Em relação ao segundo ponto, parece que tudo se apresenta bastante claro e penso que é indiscutível que Jesus Cristo existiu de facto. Em relação ao Espírito Santo, talvez fosse uma pomba domesticada que por lá andasse, mas aqui a conotação é a mesma em relação ao simbolismo de Deus Pai. O problema chega, realmente, no terceiro ponto.
E a minha questão é, novamente, simplicíssima: serão os ensinamentos da Bíblia e os dez mandamentos que fazem duma pessoa uma boa pessoa e um bom católico, ou são os valores e ideiais pelos quais uma pessoa se rege a partir da educação que recebe dos pais que fazem com que esta seja um bom católico, ou simplesmente católico (visto muitos desses valores coincidirem com os seus)?

E a provável resposta para esta pergunta seria:

Uma pessoa não nasce ensinada. E desde cedo recebe dos seus pais (ou outros encarregados de educação) os valores que estes pretenderam que fossem os seus. Ora, essa educação de cariz religioso pode ser mais ou menos radical e/ou fanática, pelo que isso definirá, na minha opinião, o que é ser-se católico e, acima de tudo, um bom católico.
Um bom católico é aquele que, mesmo seguindo os princípios da Bíblia, adequa os seus comportamentos e atitudes de acordo com a vida quotidiana. Como será de resto óbvio, penso que ninguém hoje em dia, numa sociedade dita ocidentalizada e civilizada se lembrará de não se galvanizar perante a mulher de um amigo apenas porque a Bíblia, e mais precisamente os Dez Mandamentos assim o proíbem através do Não cobiçarás a mulher alheia. E eu talvez até esteja a ser bastante condescendente e iludido, pois o que não falta por aí é fanatismo religioso. Mas, já que gostam de separar tanto o trigo do joio, o bom do mau, o bonito do feio, então direi que aí reside a diferença essencial entre um bom católico e um mau católico.
Um bom católico aposta no bom-senso, guia-se por ele, não se deixando iludir pela fé que ao mesmo tempo o mantém num homem são (socialmente); um bom católico sabe distinguir os princípios da Bíblia que ele considera primários e essenciais à sua vida e consegue também reconhecer que muitas vezes a Igreja Católica não representa o bom católico.
Existem ainda as boas pessoas, que são aquelas que, mesmo não sendo católicas, conseguem fazer-nos pensar que o bem e o mal não residem exclusivamente no domínio religioso.
Depois existem os maus católicos, que ainda são muitos. São eles os que queimam preservativos, os que apoiam o regime da Inquisição, os que são contra toda e qualquer forma de aborto, que defendem a erradicação dos homossexuais, por fim, os que não vêem outra coisa à frente sem ser religião.

Assim sendo, com que ficamos? Apenas com bons católicos? Era bom, era...Mas por enquanto ainda vamos ter que ir encarando uns que ainda estão na Idade da Pedra (em relação a atirar as pedras...).

Cumprimentos, Simão Martins

3 comentários:

João Francisco disse...

Como já dizia o nosso amigo Eça de Queirós na voz de uma das suas personagens, acho que uma pessoa deve ser justa e boa apenas porque sabe que isso é o mais correcto, e não apenas por ter medo de ir parar ao inferno.
A Igreja Católica é para mim uma farsa. Fui educado como católico, embora não praticante, mas hoje sinto que isso me ajudou a constituir o meu ideal de religião. A santíssima trindade nunca fez sentido para mim, assim como todos os falsos moralismnos que a IC defende, nomeadamente quando vemos os seus sacerdotes a viverem debaixo de tectos de ouro e a receberem caixas incrustradas de jóias como prenda de anos. Especialmente no que toca à Bíblia, as pessoas não têm noção de que se trata de um livro simbólico, adulterado, alterado, deturpado, manipulado para satisfazer as vontades de um igreja liderada por homens frustrados, sedentos de poder como qualquer outro homem vão, homem pecador e terreno. O "efeito borboleta" é extremamente interessante de se aplicar neste caso: o facto de um único Papa ter decidido destruir os evangelhos que não se aplicavam ao imaginário de igreja que os homens no poder concebiam, ter construído um Novo Testamento "à sua imagem e semelhança", leva a que hoje, milhares de crentes acreditem cegamente num livro que em nada representa o Cristianismo Primitivo, aquele cristianismo que defendia as ideias ainda hoje inovadoras, e que tanto espanto causou na sua altura, e ainda hoje causa. É uma ideia que me faz confusão, a interpretação literal da Bíblia, essa interpretação que poderá levar a tantos fanatismos tão ou mais perigosos que os fanatismos da religião muçulmana.
Só como ponto de curiosidade, aprendi hoje na faculdade que há uma passagem na Bíblia que diz que Noé apanhou uma "piela" após o final do grande dilúvio. Curiosmanete acredito literalmente nesta parte...

Abraço puto Simão, excelente posta!

Simão disse...

A propósito disso, vi no outro dia um episódio do Dr.House, cujo doente era um dito curandeiro, um enviado de Deus para curar apenas as ovelhinhas guiadas pelo bom pastor. Como é óbvio, o Dr.House, qual ateísta revolucionário, propôs-se a fazer uma aposta para ver qual dos dois fazia mais pontos, avançando no diagnóstico do paciente (Dr.House vs. Deus).
A determinada altura, tudo fazia crer que o dito curandeiro tinha conseguido fazer com que um tumor de uma paciente do Dr.Wilson (oncologista) diminuisse.
Mas para vermos como às vezes a religião consegue ser tão cega, tudo não passava de um herpes.
Ou seja, um simples herpes "passa a perna" à cura de Deus.

Por agora vou-me deitar, amanhã continuaremos.

Cumprimentos

Anónimo disse...

E não é preciso dizer como é que esse curandeiro foi contaminado por essa herpes? Ironia... como o Dr. Greg House diz sempre: Everybody lies!

Agora, queria apenas focar um erro no teu post, para os católicos, Jesus Cristo não é Deus, apenas Seu filho. Apenas os Cristãos acreditam que Jesus Cristo é Deus ou a Sua reincarnação.
Na minha opinião, as religiões só são puras quando estão ou na aurora dos seus tempos ou em minoria face a outra e, quando eu falo de pureza, refiro-me a tratarem os ensinamentos de "não odiarás o próximo" ou "amai o próximo" à letra cujos casos levaram muitos Cristãos a serem comida para leões nos Coliseus romanos cujos sacrificios resultaram para que a religião ganhasse mais aderentes no princípio do primeiro milénio. No entanto, a partir do momento que essa religião fica em maioria ou no poder é de esperar que os seus valores sejam usurpados por "homens" e não por "religiosos" que usam a Crença como justificação para barbaridades como as Cruzadas ao Império Bizântino, à traição e massacre dos Templários, à Inquisição e consequente uso de tortura e pena capital com requintes de pura malvadez.

Eu estou completamente de acordo com o Jota. É ridiculo (infelizmente) que as pessoas sejam ensinadas a praticar o bem "porque se sujeitam a ir para o Inferno" em vez de o praticarem por iniciativa própria e/ou para se sentirem bem consigo mesmas enquanto sabemos que o dinheiro do Banco do Vaticano era suficiente para erradicar mais de 60% da pobreza mundial (dados variam, já ouvi que há a probabilidade de erradicar em 100% a mesma) ou quando o Papa quer que as suas botas sejam de ouro... Alguém está-se a esquecer de um dos 7 pecados capitais? Bem não é preciso referir os caprichos do Papa, basta vermos as Igrejas do período Barroco que para mim, são uma autêntica vergonha e ofensa para todos os crentes quer do Cristianismo ou Catalocismo.
Entristece-me saber que devido a fanatismos religiosos, não seja possível haver consensos entre a ciência e a religião exactamente devido ao fanatismo religioso que é correspondido com fanatismo ciêntifico