segunda-feira, abril 23, 2007
As boas notícias
Hoje é o dia Mundial do Livro. E pelos vistos há cada vez um maior número de pessoas que se apercebem de que ler é algo essencial.
Segundo noticia o Público, mais de três milhões de pessoas ja lêem (quando digo ler, e segundo o teste da Marktest, refiro-me à leitura integral de um livro).
No entanto, tenho duas opiniões antagónicas em relação a esta notícia.
1º- É, indubitavelmente, um dado estatístico relevante, e, dadas as circunstâncias actuais, não deixa de ser um sinal positivo de que «isto» está a mudar. As pessoas estão a ler cada vez mais, passando primeiro pela vaga de jornais gratuitos que já se vai fazendo sentir, cujas tiragens têm aumentado desde que estes surgiram por cá; por outro lado, segundo o teste da Marktest, mais de três milhões de pessoas teriam lido um livro no mês anterior a ser feito a respectiva sondagem.
2º- Comparando com a Europa, e porque estamos condenados a fazê-lo (pois o comboio continua a andar e raras são as vezes que pára para esperar pelos mais desfavorecidos), estamos ainda muito atrasados. E esta situação deve-se, uma vez mais (mas não só), à situação provocada pela ditadura que durante quase meio século esteve instalada em Portugal. Existiu um «senhor» em Portugal, o Cardeal Cerejeira, que defendia que mais valia que o povo se mantivesse burro e deixasse a instrução para os seguidores do regime.
Pois ainda hoje pagamos essa factura. E para a contrariarmos esta tendência, há-que tentar fazer um esforço, não para os outros, porque eu não leio para que alguém me elogie que o faça, mas para me instruir e adquirir um nível cultural cada vez maior.
Portanto, apelo a todos: os que costumam ler, não deixem de o fazer, pois sabem que só ficam desfavorecidos com tal atitude (a segunda). Os que não têm esse hábito, devem habituar-se a tal, só ficam a ganhar se o fizerem, pois está provado que melhora a capacidade de bem escrever e bem pensar. Tenho esperança que, num país como Portugal, com tamanha herança cultural, não se deixe ir abaixo e cair no pântano da ignorância.
É necessário que não o faça.
Cumprimentos, Simão Martins
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3 comentários:
Este "post" é importante, pois remete-nos para o que somos e o que fazemos do nosso lazer.
Não partilho do entusiasmo dos que vêem no crescimento quantitativo de leitores em Portugal grande coisa. Os indicadores que para mim são relevantes são os que nos dizem que o PÚBLICO tem uma tiragem comprada na ordem dos 40.000, sendo que de menos de 30.000 entre segunda e quinta, e que o DIÁRIO DE NOTÍCIAS, antes da sua "Correiodamanhazização" (transferência da equipa directiva do tablóide - nome esquisito de gíria para jornal de segundo nível e alto índice de coscuvilhice, entre outras coisas ruins - "Correio da Manhã", após um take over pelos Oliveiras do futebol) vendia em média 30.000.
Ou seja, na grande metrópole que é Lisboa, dois milhões apesar de tudo, apenas uns 60 a 70 mil lêem coisas decentemente escritas acerca do seu mundo, do seu país, as notícias e as opiniões.
Desenganemo-nos, pois os leitores que se somam nos gratuitos são leitores de tipo tablóide, são transfugas do "Tal & Qual", do "Crime", consumidores do usar e deitar fora, inteiramente avessos a cheirinho de opinião, desgostosos do bom senso e da polémica sã, ignorantes essencialmente da cultura "séria", apaixonados pela cultura chiclete, ou pela cultura "Maria".
Peço desculpa ó Simão, mas acho que os leitores que alguns gostariamos de ver crescer, ainda não se dirigem às leituras que os poderiam ajudar, mesmo para ler ficção que fosse importante para o seu devir, fosse pela informação que lhes levasse ou pelas interrogações que lhes suscitasse. Não, o que cresce agora, meu caro, são Rodrigues dos Santos, Margarida Rebelo Pinto e outros expoentes culturais do género.
Quanto ao PÚBLICO ou o DN, ou se emerdizam, como o segundo agora mesmo, ou acabarão por morrer. Há pouca esperança no horizontes, lá isso há.
Mas a esperança não é a última a morrer?
Eu tenho consciência de alguns dados. Dei há pouco tempo a Sociologia do Jornalismo que na imprensa, o jornal ou revista que tinha maiores tiragens (a que correspondem a maior venda) era a TV Guia.
Realmente há-de fazer-nos pensar. Mas é o país em que vivemos, e não, não concordo que um jornal como o Público se emerdize (algo que já fez parcialmente, ao criar o P2). Afinal de contas, estamos condenados a ser uma imensa minoria, e não creio que essa característica se associe apenas à música.
Cumprimentos
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