segunda-feira, janeiro 15, 2007

Dois coelhos de uma só cajadada...

Pois bem. Como diz o meu amigo João Francisco lá para os lados do Living Atheist, não me parece que 2007 venha a ser um ano muito agradável. Aliás, também eu tenho vindo a denunciar certos acontecimentos que vão contribuindo progressivamente para que isto não ande.
Desta vez venho falar de duas situações insólitas.

Podemos dizer que o primeiro coelho é português: D. António Moreira Montes, bispo da diocese de Bragança-Miranda e vice-presidente da Conferência Episcopal.
Ora, este senhor achou por bem afirmar, como consta no Público de hoje, que o aborto é apenas uma variante da pena de morte, comparando-o à execução de Saddam Hussein. Sei obviamente qual foi, qual é e qual será a posição da Igreja em relação ao aborto, mas acho incrível que venham dizer que interromper o desenvolvimento de um feto num período limite legal até às dez semanas se pode comparar ao enforcamento de um ditador em plena praça pública.
Autênticos massacres fazem eles quando decidem mandar uma carga de preservativos para a fogueira, em países onde estes são extremamente necessários e onde a proliferação do vírus da Sida é praticamente incontrolável. Rico coelho, este.

O segundo coelho é colectivo e internacional mas está dentro da comunidade europeia.
Trata-se da criação oficial de um partido de extrema-direita para o Parlamento Europeu, que tem por nome ITS (Identidade, Tradição e Soberania).
E aqui vem reforçada a minha posição em relação a qualquer manifestação de extremos. Enfim, como só vão surgindo manifestações de extrema-direita a que me referir, penso que por enquanto nos vamos vendo livres de estalinezinhos. Penso que não tardará muito até que a agitação surja no seio do Parlamento Europeu. Não devemos esquecer que na cabeça deste partido estão nomes oriundos de países com grande influência na conjuntura internacional, como Jean-Marie Le Pen (França), que perdeu nas últimas presidenciais contra Jacques Chirac, e por exemplo, Alessandra Mussolini (Itália), neta do antigo ditador italiano, Benito Mussolini.

Tenho pena que ainda se vá dando voz a movimentos ou partidos com esta postura política, mas teria de se colocar novamente a questão da liberdade de expressão. Devem tê-la ou não?

Na minha opinião, não. Apenas pelo simples facto de defenderem os ideais que há umas décadas (atenção, umas décadas) foram sustentáculo e pretexto de violentas ditaduras e massacres inimagináveis, os maiores de que há memória. E atenção, digo o mesmo para os apoiantes de Estaline, por exemplo.
Então, poderemos nós pensar, são estas pessoas dignas desta liberdade que outrora se dignificaram de oprimir?

Cumprimentos, Simão Martins

8 comentários:

João Francisco disse...

"Então, poderemos nós pensar, são estas pessoas dignas desta liberdade que outrora se dignificaram de oprimir?"

Esta frase dava realmente para uma discussão bem extensa. É de facto um paradoxo, que está aliado à problemática dos limites da liberdade de expressão: devemos nós, como defensores da liberdade e democracia, permitir que pessoas que defendem ideais de opressão, autoridade extrema e sociedades baseadas na discriminação e que não hesitariam em eliminar e apagar quem defenda o contrário delas, devemos nós permitir então que eles usufruam de algo que, por eles, não haveria?
O velho discurso do "não devemos descer ao nível deles" é muito bonito, a pessoa safa-se com a dignidade intacta, mas a sensação de injusiça ficará sempre a pairar. Pessoalmente não concordo com essa posição, e não deixo de ser defensor da democracia e da liberdade de expressão. Da mesma forma que um criminoso deve ser punido por ter atentado contra um direito ou infrigido uma lei, uma pessoa ou grupo de pessoas cujos ideais atentam contra as leis e os direitos humanos, (como o fazem esses partidos de extrema-direita ao defenderem a discriminação cega, por exemplo) deve ser impedida de o divulgar e difundir. Que ninguém os impeça de o dizerem, claro, pois são livres de serem retrógrados mentalmente. Mas é perigoso permitir a difusão destes ideais nas escolas, nos media, etc. Não me chocaria que tal fosse proibido, especialmente tendo em conta, como tu dizes Simão, os acontecimentos passados há poucas "décadas" atrás. Décadas, e não séculos.

Anónimo disse...

Nao partilho da opiniao deste post, o facto da democracia nao permitir que grupos de pessoas defendam os seus ideais e as suas opinioes vai contra contra os proprios ideias da democracia.. os ideais de liberdade, direito de expressao e igualdade , perante estes ideais somos tds iguais e temos o direito de exprimir a nossa opiniao... os perigos da sociedade estao sempre presentes como as drogas, criminalidade e nao e descriminando este ou outro grupo politico que as coisas vao melhorar.. e aplico a maxima "nao facas aos outros o que nao gostas que facam a ti", portanto ao afirmares que a democracia devia abafar a extrema-direita tas de certo modo a concordar com eles e a ires contra os ideias da democracia como a liberdade..

Simão disse...

Caro anónimo, o que é a democracia, o que é a liberdade? Não lhe parece imensamente distante e remoto? Tresandam a filosofia, estes termos.
Mas a sua aplicação é bem real, e se bem se lembra, a aplicação dos princípios de extrema-direita ou de extrema-esquerda não foram nada favoráveis para as democracias. Nem para as «liberdades» dos outros. Ou o Hitler era um fulano cinco estrelas?

Lembre-se, LEMBRE-SE do que Mussolini fez!

E agora a neta dele é membro dum partido de extrema-direita no parlamento europeu.
Já dizia o ditado: «Quem sai aos seus não degenera...»

Anónimo disse...

É aqui que deve entrar o bom senso. Shôr anónimo, queres então dizer que perante uma pessoa num direito de antena a dizer que o governo não está a fazer o trabalho correcto e outra que diz que devemos deportar todos os imigrantes (legais ou ilegais) e negar trabalho aos deficientes e virar as costas à Europa, basear a política na discriminação racial e no fanatismo, a reacção deve ser exactamente a mesma coisa? Pois eu cá acho que não. Tal como o comunismo puro (que seria a sociedade perfeita, vamos lá admitir) não é praticável, também é impossível obteres uma democracia pura e dogmática, sem que a sociedade se desmorone. Tudo tem regras e excepções e nelas deve predominar o bom senso. Máxima liberdade, mas com máxima responsabilidade, né Simão? ;)

Simão disse...

Não sei se será sintoma da origem do nome, mas sim, já dizia o Cícero.

É óbvio que o anónimo não reflectiu sobre as consequências que pode ter a implementação de um partido de extrema-direita numa sociedade dos dias de hoje.
Devia-se ter recordado, aliás, que quando Le Pen conseguiu passar à segunda volta nas presidenciais, ficou praticamente instalado o pânico em França, como deve suspeitar, sendo o país pioneiro no que toca aos direitos humanos, direitos esses que um fascista ou um nazi se dignifica a oprimir.

E aqui, se lhes é dada muita responsabilidade, a liberdade será mínima!

Anónimo disse...

Ressurgimentos de partidos de extrema direita pelo menos na Alemanha já gerou polémica há já alguns meses... Eu próprio fiquei embasbacado como ainda há pessoas que encontram suporte nas ideias fascistas. No entanto, discordo plenamente contigo em muito do que disseste Simão.

Comecemos pela Igreja, é Igreja e ponto final. Não tens nada mais retrogada que a Igreja católica principalmente com Ratzinger à frente. A postura da Igreja sempre foi e sempre será o mesmo até que alguma lógica a abale radicalmente. E daqui tiramos um bom exemplo de algo de bom que a Igreja tem: RARAMENTE volta com a sua palavra atrás.
É lamentável banir preservativos onde são precisos mas não considero a postura da Igreja quanto ao Aborto, negativa. Os argumentos usados são tão ou mais válidos que os teus ou os meus que somos a favor do Sim pelo simples facto de termos consciencia da REALIDADE isto é, sempre se abortou ilegalmente, a legalização apenas vai metaforicamente falando claro, abrir-nos os olhos acerca da quantidade de mulheres irresponsavéis que se deixam engravidar e dos homens que as engravidam.
Mas já que Jota Francisco referiu uma Utopia, o comunismo, acho bem idealistas defenderem o Não ao aborto. Uma vez mais, trata-se de Realismo VS Idealismo. Por um lado aqueles que sabem o que se passa à nossa volta (receio não ser o mais exímio dos exemplos) e aqueles que acreditam que ainda se pode atingir o ideal. Deparei-me com um debate com o meu irmão, ele partidário do Não ao aborto. E digo, TODOS mas mesmo TODOS os argumentos dele eram mais fortes (emocionalmente) e tão crediveis como os meus. Ficam aqui alguns exemplos:
-O coração já bate após o primeiro mês
-Intervenções podem ir para listas de espera ou seja, quando for altura da intervenção já o feto estará desenvolvido
-Não deixar alguém existir é pior do que matar alguém.

A minha opinião como passivo estudante de Geografia e Planeamento Regional faz-me pensar que a legalização do aborto é negativa para certos indicadores do país no entanto, o meu outro lado, aquele consciencioso que muitas vezes vem cá acima, diz-me que sempre se fizeram abortos, sempre se errou e que devemos dar uma segunda oportunidade para corrigir o erro. Por vias normais, uma mãe e um pai que pensam em abortar o nascimento do seu filho provam que foram irresponsáveis e que futuramente seriam pais negligentes.
Por outro lado, temos aqueles na abstenção como um colega meu que diz que o assunto do aborto é tão melindroso que é incapaz de o discutir e por isso mesmo não irá votar. Eu contra argumentei que sempre houveram e haverão assuntos melindrosos para se discutirem, já tivemos tempo suficiente para o fazer, agora ou nunca, temos de agir, SIM ou NÃO. Já diria o mestre Yoda (um aborto :P): Do or do not, there is no try. Este é um assunto que exactamente porque é melindroso nos daria largas horas de discução e um serão bem passado a fazê-lo.
Mas, agora numa conjuntura mais internacional, comentemos o ressurgir dos extremistas. Permitam-me corrigirmo-NOS e dizer-vos que eles não ressurgiram, eles sempre existiram, apenas estão a ganhar credibilidade no nosso novo contexto sócio-mundial: poderiamos atribuir causas à Globalização, ao decréscimo do poder de compra em vários países desenvolvidos ou mais curiosamente, na progressiva dissolução do equilibrio Socialista e Capitalista ou seja, a dissolução progressiva das Sociais-Democracias e no avanço do Neoliberalismo (extremista em certo ponto também ele).
Se se abafar a voz dos extremistas, isso só irá fortalecer-lhes pois não só estaremos a comportarmo-nos como eles como também estaremos a dar-lhes importancia em demasia, gerando uma polémica à volta do assunto que servirá o mesmo propósito que qualquer outra campanha política. Hitler, numa situação destas, teria agido assim de certeza. Esta publicidade de carácter negativo não deixaria de ser publicidade mas pior ainda, seria uma publicidade que chegaria mais longe ainda. Matematicamente +x+(-x)=-x quero com isto dizer que a publicidade negativa tem muito mais impacto que a positiva ou mera passiva.
Um mundo perfeito não seria um Utópico, esse seria apenas o ideal. A perfeição descança nas mãos do equilíbrio em TUDO. Não só no ambiente como a minha estimada professora de Geomorfologia diria mas também na vida social, na cultura e economia. Equilibrio é algo que já não temos desde a guerra fria, um período de terror (ou assim nos é relatado a nós, macericos da vida) mas um terror equilibrado, haviam duas forças que seguravam o mundo. Hoje, isso não existe, a Globalização é vista por muitos como a definitiva conquista mundial pelo mais forte na conjuntura, neste caso, infelizmente, os EUA. Estamos num mundo desiquilibrado, o Neoliberalismo domina invicto gerando cada vez mais assimetrias e fossos entre ricos e pobres, fortes e fracos extremizando-se por vezes. Digo-vos, provou-se que nem o fascismo nem o nazismo são a solução, os EUA solenemente nos "provaram" que os vermelhos não são a solução no entanto, a história provou aos EUA que o Liberalismo não é a solução em 1929 com o Crash e no entanto, aqui estamos nós com o Neoliberalismo às portas e com a tentativa de implementação de uma mente em base do Desenvolvimento Sustentavel a falhar. Para se combater a crescente credibilidade nos extremistas temos nós de o fazer com as armas certas, campanhas diplomáticas que RELEMBREM o que é a liberdade à população, não que lhes digam exactamente o que é o contrário abafando a voz dos extremistas, talvez eles uma peça fundamental para a recuperação do equilíbrio (não estou a dizer que 10 anos de fascismo no poder irão equilibrar o mundo, estou a dizer que a presença deles relembrará aqueles que estão no poder defensores da liberdade, que amanhã poderão já não lá estar).
E este ainda é um assunto mais melindroso que o aborto... mas é relevante, enquanto continuarmos a esbanjar recursos, digamos "buh-bye" ao desenvolvimento sustentavel e a qualquer outra preocupação politica pois teremos algo mais urgente a resolver ou pelo menos a atenuar.
Mas...
Que virá a seguir?
Uma terceira guerra mundial? Ou será apenas isto uma teoria do caos?

Anónimo disse...

Bem, o meu comentário tem estado invicto durante tanto tempo. E vai 1....
e vão 2.....
e vão 3.....

Patau is the winner!!!
*the crowd cheers*

Anónimo disse...

patau...












não.